Apregoa o marketing, que certos bens e produtos ao serem adquiridos diferenciam as pessoas. Esta mensagem é vinculada, às vezes, de modo sutil, velado, outras vezes, de forma contundente, explícita.
12-01-2025 às 08h35
Daniela Rodrigues Machado Vilela*
Aqueles que usufruem das benesses do capitalismo sentem contentamento, afinal experienciam uma vida material mais abastada. Comprar produtos, viajar, comer iguarias em bons restaurantes, têm seu glamour. Afinal, o fetichismo das mercadorias seduz. O problema é que este sistema é excludente, monopolista de recursos, visa lucros de modo nunca suficiente.
Disto resulta que, parte significativa das pessoas ficam à margem, excluídos. Ou seja, uns detêm recursos em demasia, outros são despossuídos, não importa o quanto laborem, pois o trabalho é, geralmente, mal remunerado.
Para propiciar divisão das riquezas produzidas pelo trabalho, faz-se indispensável remunerá-lo adequadamente. Caso contrário, os trabalhadores não acessam certos proveitos do sistema, não importando o quando laborem.
Meu sobrinho Davi, quando criança, falava coisas intrigantes. Um dia me disse: Tia, “dinheiro é vida”. Ele se referia à possibilidade nos jogos de videogame de as moedinhas adquiridas injetarem uma pílula de vida no personagem. Esta frase dita por uma criança à época, se encaixa perfeitamente como uma metáfora para a lógica do capital, pois quem detêm recursos, de certo modo, “compra mais vida”, ao ter a chance de adquirir alimentos saudáveis, pagar por academia, plano de saúde, moradia e até tratar doenças com os medicamentos necessários.
Ou seja, sem recursos financeiros, a qualidade de vida se esvai. Já o acesso a bens materiais, permite mais longevidade ao corpo e sem este, não há vida, neste planeta pelo menos.
Apregoa o marketing, que certos bens e produtos ao serem adquiridos diferenciam as pessoas. Esta mensagem é vinculada, às vezes, de modo sutil, velado, outras vezes, de forma contundente, explícita.
No modo de vida do capital, quando alguém compra uma roupa de marca, não adquire apenas uma vestimenta, mas sim, um traço diferenciador dos demais. É uma ilusão esta ideia, mas ela é vendida, aceita e naturalizada por muitos. Sob a égide deste modo de produção, são criados e oferecidos inúmeros produtos que “supostamente” coloca uns indivíduos acima dos outros, como que se criasse uma “elite”, uma classe “dita” superior em detrimento das outras, que pode usufruir de roupas de grife, carros de luxo e certos locais de moradia, dentre uma variedade imensa de exemplos.
A exploração é, de certo modo, naturalizada. Para que seja ofertada mais qualidade de vida, necessitam todos se comprometer com o coletivo. Não compreender as coisas só
à flor da pele, de modo superficial. Sentir e apiedar-se, um pouco que seja, “da dor de viver” presente em todo ser humano. Não ser apenas escravo dos institutos vis, sucumbindo à ganância, luxúria, avareza e usura. Já que todos, indistintamente, estão sujeitos a tantas coisas, inclusive desgraças. Enxergar os ciclos da vida e evoluir com estes. Dinheiro é bom, mas não é necessário ter tanto assim.
Salienta-se a importância de se partir de um horizonte de objetivos mais altruístas, além de apenas sobreviver. Participar e pelear por coisas mais humanas e genuínas como objetivar concretizar o ideal de justiça social. Contribuir para elastecer as oportunidades para que todos desfrutem dos benefícios do capitalismo, dos bens materiais, confortos terrenos. Desta feita, todos vão viver dignamente, se alimentar com mais qualidade, ter
oportunidades, momentos de satisfação e alegria. Partilhar de modo razoável as riquezas produzidas por capital e trabalho. Que bem-viver possa ser um horizonte possível para todos!
*Doutora, Mestra e Especialista em Direito pela UFMG. Atualmente, residente PósDoutoral pela também UFMG, com financiamento público da FAPEMIG. Professora
convidada no Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Minas Gerais