Escutar é uma arte. Inclusive ouvir a si mesmo. Voltar-se para a própria essência. Relaxar, permitir-se um fazer e, às vezes, um “não fazer”. É o que recomenda a autora do artigo.
20-12-2024 às 09h05
Daniela Rodrigues Machado Vilela*
Dezembro deve ser um mês mais leve, de finalização de projetos. Tempo de algum descanso. Se não o desejado, que seja o possível. É fim de ano, tempo de leveza, já foi, agora só ano que vem! Solte as rédeas da insatisfação.
Quer um desejo mais genuíno que o de aceitação que brota em todo ser humano?
Todos pretendem ser aceitos, mas a busca por enquadramento imposta pelos padrões midiáticos, passa pelo crivo do outro, necessita de sua aprovação, isto é doloroso em demasia.
Não deixe a sua vida ser “aberta por fora”, apenas “por dentro”. Não dê tanto espaço para que os outros lhe tornem triste ou infeliz. Mantenha o equilíbrio, lembre-se: expectativas demais são uma besteira, a vida segue seu fluxo e está fora de controle. Não se deixe capturar pela métrica do outro ou de um padrão imposto. Silencie as imposições alheias. É indispensável ter leveza para enxergar e valorizar a própria trajetória de vida.
Não se compare tanto, cada um tem sua história, seus pontos fortes e fracos. Trilhar o próprio caminho, pagar o preço das próprias escolhas. Aumentar o bem-estar emocional tem a ver com estar em harmonia com as próprias regras. O grande amor nosso de cada dia, deve ser a gente mesmo. Só pode amar outra pessoa, quem se conhece, se respeita, se valoriza, modifica-se porque vê valor nisto. Só tem a oferecer quem tem dentro de si algo. Não dá para partilhar o que não se tem. Construa-se, aperfeiçoe-se.
Escutar é uma arte. Inclusive ouvir a si mesmo. Voltar-se para a própria essência.
Relaxar, permitir-se um fazer e, às vezes, um “não fazer”.
Os indivíduos caminham de certo modo, sob a insígnia da insatisfação. Todos estão querendo mais, reclamando, olhando o “copo” sob a perspectiva de que este está sempre vazio: faltam oportunidades, o corpo desagrada, quer-se mais beleza, mais jovialidade. O desejável, paradoxalmente, porém, é antes de tudo, agradecer o que se têm, reconhecer as vitórias alcançadas.
Os óculos com os quais se vê a realidade devem ter os “tons do otimismo,” ainda que isto possa resultar num certo grau de inocência. Uma vez que, o “não” como resposta, já se tem de antemão, logo, é hora de correr atrás do “sim”, ter esperança.
Há muitas coisas boas pelo que agradecer. Cultive a gratidão. Lembre-se das próprias capacidades, da família, dos amores, das experiências, do próprio crescimento pessoal.
A modernidade, coloca todos, diante de uma insatisfação brutal. O ideal de perfeição tolhe a alma, retira o viço da juventude e a tudo corrói.
É impossível dar conta de tudo num mundo caótico, de necessidades e obrigações mil. É desejável fazer escolhas.
Outro dado da modernidade, diz respeito às telas, à internet, que mudaram a percepção das coisas e impuseram novos desafios. Há uma sensação de que o sujeito não é bom o suficiente e que as tarefas diárias extrapolam a duração do dia.
Muitos adolescentes, jovens e até adultos começam a ter uma percepção do próprio corpo equivocada, graças aos padrões absurdos propostos por filtros de redes sociais que emagrecem e deturpam as fisionomias, tornando as pessoas com um estereótipo não real. A realidade da autoimagem comporta linhas de expressão, traços de envelhecimento, imperfeições. Estamos falando de seres humanos, não avatares.
Certa ocasião, uma reportagem televisiva, retratava o perigo que representa os filtros da internet, os programas de afinamento de silhuetas disponíveis, que atualmente, nas redes sociais, levam os adolescentes a uma percepção equivocada sobre o próprio corpo. O que resulta num descontentamento com a autoimagem.
Estes filtros fazem muito mal ao colocarem rostos e corpos com um aspecto não real, perfeitos demais. Fora da normalidade média dos adolescentes que têm, às vezes, um rosto mais oleoso ou traços característicos da puberdade, como acnes.
Outro aspecto dos tempos atuais, é que a fama na internet, geralmente, não depende das realizações e conhecimentos do indivíduo. As redes, vivem de performances que podem, inclusive, serem falsas. Fotos de corpos perfeitos, de viagens sensacionais, de lugares caros e luxuosos, tudo isto, leva a uma sensação de insatisfação enorme. Há inclusive, inúmeros casos de depressão e suicídio que são atribuídos a soma destes descontentamentos, assim como outros possíveis transtornos.
A despeito disto, necessitam todos, buscar satisfação com a própria vida, dentro das limitações inerentes, resgatar o gosto por coisas simples. Aceitar que muitas coisas não estão sob o controle próprio. Ser delicado consigo e com os outros. Ajustar o foco, colocar como meta objetivos claros, organizar-se. Aprender a perder, juntar os cacos dos próprios tombos e fazer bricolagens. É inevitável, a vida é assim.
Ter sonhos, estar aberto para mudanças de percurso, ajustar a rota, tudo faz parte.
Não perder a própria essência, seu modo particular de ser, a despeito das opiniões alheias.
Valorizar a própria trajetória, mudar, ajustar, reajustar, transformar, superar a si mesmo, aceitar as perdas. Viver o novo, celebrar o velho. Ter calma, encontrar a paz. Não há perfeição. Fazer tudo proposto ou nada. Realizar as coisas à própria maneira, não há receita pronta, nunca haverá! Atenção ao modo de conduzir-se na estrada da vida, olhar renovado todos os dias sobre a sua própria história.
Para 2025 não façamos estudos de futurologia, mas certamente, uma pitada de leveza, bom-humor, ponderação, disposição e fé na vida não faz mal. Sigamos reinventando nosso próprio mundo. Feliz ano novo!
*Doutora, Mestra e Especialista em Direito pela UFMG. Atualmente, realiza Estudos Pós-Doutorais pela também UFMG, com financiamento público da Fapemig. Professora convidada no PPGD-UFMG (Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Minas Gerais).