Viver é tarefa desafiadora. O homem necessita observar os acontecimentos circundantes, questionar as pseudoverdades e emitir opiniões para obter a compreensão sobre os fatos.
19-12-2024 às 08h38
Daniela Rodrigues Machado Vilela*
A dificuldade de comunicação é um fato incontestável, suas falhas e insuficiências.
Têm-se as palavras e os silêncios. Os gestos, os emojis, as expressões faciais, as linguagens corporais, os signos e outros modos de se comunicar que são variáveis e envolvem um complexo sistema. Enfim, expressa-se algo de modo intencional ou não.
Comunicar-se de modo assertivo, empático, abre portas, é um privilégio, o que reverbera em acolhimento, ato de generosidade, afeto, respeito ao outro. Por outro lado, as palavras podem transmitir mensagens de dor, amargura, raiva.
No casamento, na família, no trabalho, entre amigos, com colegas ou conhecidos, a todo tempo, se argumenta e emite opiniões. Saber divergir, respeitar quem pensa diferente, estar aberto para pontos de vista outros, é uma necessidade, desde que obviamente, seu interlocutor consiga argumentar de modo lógico e racional.
Ninguém tem que ouvir coisas ilógicas ou desarrozoadas.
Para se fazer eficaz, a comunicação deve ser clara e condizente com o nível de capacidade de assimilação por parte de seu interlocutor. Deve ser respeitosa, não invasiva.
Todos têm direito a sua parcela de privacidade, não se pode vasculhar a intimidade do outro. A fofoca é um veneno. A hipocrisia é algo a ser extirpado. A maledicência é da essência humana, mas deve ser reprimida.
Por vezes, não é momento oportuno para falar, mas sim, silenciar.
Falas eficazes têm a ver com a escolha das palavras em seus contextos e bom senso. A realização de uma boa conversa depende ainda da preparação sobre o assunto.
A arte tem seu modo de passar a mensagem. O grito, o barulho, a televisão, o rádio, a escola, as manchetes, os livros, tudo expressa um conteúdo comunicativo.
A linguagem pode ser de aconchego ou resultar em brutalidade. Há momentos em que desiste o indivíduo de certos diálogos e pessoas, pois as falas não são leais, omitem se fatos, circunstâncias, escondem-se as reais intenções, falseiam-se os argumentos.
Viver é tarefa desafiadora. O homem necessita observar os acontecimentos circundantes, questionar as pseudoverdades e emitir opiniões para obter a compreensão sobre os fatos.
As palavras oferecem um turbilhão de oportunidades comunicativas, espaços de entendimentos e desentendimentos.
Deve se pautar um diálogo, por critérios de objetividade, síntese, embasamento, concatenação lógica, razoabilidade argumentativa e finalidade específica. É elemento crucial, saber para que público se dirigem os argumentos, qual a mensagem a ser explicitada, o que se almeja, qual o resultado perquirido.
A linguagem se presta a decodificar, conectar, explicar. Seu maior desafio é o entendimento, pois nem tudo que é dito é compreendido. Como diz Paulo Freire: ninguém começa lendo a palavra apenas, o homem lê o mundo, interpreta-o, tendo a partir disto, a possibilidade de transformá-lo.
Não basta pronunciar um discurso, para além, é necessário fazer da fala sua prática, este também é um pensamento Freiriano de que se deve diminuir a distância entre discursos e atitudes até o momento em que um reflita a outro, isto, chama-se coerência de vida, razoabilidade discursiva. Pois, é bem mais fácil dormir tranquilo quando se é honesto consigo mesmo.
*Doutora, Mestra e Especialista em Direito pela UFMG. Atualmente, realiza Estudos Pós-Doutorais pela também UFMG, com financiamento público da FAPEMIG. Professora convidada no PPGD-UFMG (Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Minas Gerais.