Para além do consumo, é tempo de esperançar. é renovação das esperanças e, para outros, denota sensação de angústia. Mas acima de tudo é tempo de comemorar o nascimento de Jesus
06-12-2024 às 10h09
Daniela Rodrigues Machado Vilela*
Chegou o fim de ano e tudo muda, a paisagem da cidade se alegra com a decoração de Natal. São fortes os simbolismos e as contradições: para uns, é renovação das esperanças e, para outros, denota sensação de angústia. Mas acima de tudo é tempo de comemorar o nascimento de Jesus.
Natal remete a muitas coisas, também aos símbolos do capitalismo. Estabelece-se uma distinção social de acordo com a capacidade de consumir de cada um. Presentear deveria se dar por gozo, satisfação, mas veste-se da feição de obrigação e, por vezes, ostentação. São presenteados os parentes, o cônjuge, os filhos, colegas de trabalho, por vezes, o chefe e até pessoas não próximas.
O consumo faz parte da vida, é uma condição permanente e inseparável da sobrevivência biológica, pois todos necessitam de alimentos, peças de vestuário e outros itens. Porém, o excesso ostensivo de consumo, o consumismo, é outra história, tem relação com exagero, que pode se dar por vazio existencial, fuga. A sociedade de consumidores tem a ver com a imposição de valores do capitalismo, com o incentivo da mídia. Enfim, a situação é complexa. As mercadorias são colocadas à venda para serem consumidas, desejadas e há todo um fetiche envolvido nisto.
Natal, não obstante, é época de afetos, que podem ser colocados em xeque, nesta data do ano, pois algumas famílias verdadeiramente se gostam, outras, acabam se encontrando por obrigação. Alguns preferem não se ver e tudo continua como antes.
O período natalino é ademais tempo de marketing, as propagandas abordam a questão de presentear. Atrela-se importância ímpar às compras materiais. Muitas pessoas adquirem inúmeros objetos, mas continuam não obstante, sentindo um enorme vazio existencial.
Por detrás da ode ao consumo, da frenética necessidade de vendas na época de Natal, está a exploração dos que trabalham, para que o consumo exacerbado aconteça.
Vendedores têm metas a alcançar. É tempo de exageros e desperdícios, há uma gama de pessoas que consomem objetos e gêneros alimentícios em demasia.
O Natal pode simbolizar coisas ruins para alguns, mas também, coisas boas para outros. É o caso desta colunista, para quem o Natal simboliza: alegria, reflexão, renovação de esperanças. A cidade fica iluminada. É tempo de sonhar com dias melhores.
Este período do ano remete a músicas natalinas, cuidado com a decoração. A ideia de um bom velhinho, o Papai Noel que trará presentes, o aroma das gostosuras sendo assadas no forno, alimentos saborosos, casa cheia, encontros. Natal é turbulência, coração batendo forte, é a vida se renovando. É tempo de afetividade.
O período natalino, simboliza a ambição por elementos de gozo, bem materiais para fruir, desfrutar. Ver vitrines, adquirir produtos. Deleitar-se na meca do consumo, o shopping-center. Caminhar em feiras de artesanato, ver o frenesi das pessoas. Tudo faz parte.
Marx já advertia sobre o “fetichismo da mercadoria”, ou seja, sobre a capacidade dos bens materiais, os objetos, adquirirem características fantásticas de acordo com o imaginário da pessoa, de modo que, o objeto adquire tal nível de encantamento que tolhe a subjetividade do sujeito e, assim, as pessoas vão sendo dirigidas pelas coisas.
As vitrines vão se tornando objeto de adoração. A felicidade reside na possibilidade de consumir, ter.
O dinheiro retira as pessoas de uma vida comum, ordinária, isto é o que propõe a publicidade do capitalismo.
Próximo ao Natal, parte das pessoas, recebem seu décimo terceiro salário. É uma época do ano que envolve uma certa abundância. Comerciantes vendendo mais, consumidores podendo consumir mais. Ademais, afloram-se eventos gratuitos pela cidade. Jogos de luzes, pisca-pisca, presépios para serem visitados.
Natal é tempo de cidades, lojas e casas enfeitadas. Por vezes, o ser humano consegue enfeitar a alma com o perdão, o reencontro, a alegria pelo porvir. É tempo de festividade. Se, por um lado, pode haver excessos. Por outro lado, é tempo de fé, oração, renascimento.
A vida é mais que “boa” ou “ruim” simplesmente, é a convergência disto. É preciso olhar com fé, com esperança. Que o Natal seja tempo de encantamento, que traga bons ventos e renovação. Boa festividade para todos!
*Doutora, Mestra e Especialista em Direito pela UFMG. Atualmente, realiza Estudos Pós-Doutorais pela também UFMG, com financiamento público da FAPEMIG. Professora convidada no PPGD-UFMG (Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Minas Gerais). Pesquisadora com ênfase nos estudos sobre o Direito do Trabalho, Filosofia do Direito e Linguagem)