A importância do lítio nessa fase de transição é compreensível e admissível, porém, não se pode explorar o mineral destruindo o meio ambiente e as condições socioculturais
30-11-2024 às 10h10
Direto da Redação
As autoridades de governo, políticos de modo geral, empresários e as pessoas comuns do povo tinham que reagir de algum modo para pôr, como se diz “ordem na casa”. Essa questão da exploração do mineral lítio no Vale do Jequitinhonha (MG) é algo necessário porque, afinal de contas, as baterias de carros e objetos eletrônicos são feitos a partir dele, mas a exploração não pode acontecer de qualquer jeito, como vem sendo feita; é preciso haver um critério menos traumático para isso.
O que a Sigma Lithium, mineradora de origem canadense, está fazendo no Vale do Jequitinhonha, segundo denúncias de moradores da região de Piauí Poço Dantas, “é um inferno” – essa é a expressão das famílias ali próximas – mas ao que parece, todos fazem “ouvidos moucos” e a empresa só vai avançando.
Avança tanto na mineração, fazendo a destruição da área como todas as mineradoras fazem, como também deposição dos rejeitos a céu aberto, chegando quase aos quintais das famílias da comunidade de Piauí Poço Dantas.
Afinal, nós não estamos na década de 1970, em governo militar – apesar de ter uma turma aí, que tentou, ao planejar um golpe e até assassinar Lula, Alckimin e Moraes – quando a empresa Minerações Brasileiras reunião (MBR) absorvida pela Vale S. A., queria destruir a Serra do Curral, em Belo Horizonte, logo na parte frontal com o outro extremo da Avenida Afonso Pena.
Os discursos dos empresários da mineração não passam de uso semântico do disfarce das palavras para enganar e prevenir reações populares, como essa linguagem de “lítio verde” e criação de empregos. As empresas não criam empregos, elas precisam das pessoas para operar suas máquinas. E delas é necessário receber mais do que pagam em forma de impostos.
A comunidade de Piauí Poços Dantas não foi procurada para opinar sobre a permanência da Sigma ali próxima dela. E hoje sofre com problemas respiratórias e barulhos das máquinas e veículos o tempo inteiro, de dia e à noite, além das montanhas de rejeitos. Tudo que não tinham antes passaram a ter agora e não têm nenhuma compensação nem quem faça alguma coisa por aquela gente.
O importante, ao que parece, na visão das autoridades, é a exploração econômica e o resto que se dane, o que é uma injustiça social de todo tamanho, porque ali milhares de pessoas estavam antes de a Sigma chegar. E ela faz de conta que assiste socialmente a região, mas precisa fazer muito mais.
A importância do lítio nessa fase de transição é compreensível e admissível, porém, não se pode explorar o mineral destruindo o meio ambiente e as condições socioculturais. Não está havendo uma exploração responsável do mineral e quem sofre as consequências é o povo que vê as riquezas de sua terra serem exploradas por estrangeiros e eles levam tudo para fora e de fato só deixam os estragos na terra escavada.