A alma da Savassi, aquela energia cantada e decantada por Roberto Drummond se perdeu na voragem do tempo, que a escultura dele em bronze fica a vigiar o que resta do lugar.
26-11-2024 às 09h:18
Bento Batista*
Aquela Savassi idealizada pelo jornalista e escritor – atleticano de doer – Roberto Drummond, não existe mais. A área hoje é só um dos espaços mais caros de Belo Horizonte, talvez porque tenha o IDH – Índice de Desenvolvimento Humano – melhor desta capital necessitada de uma requalificação, por parte do prefeito Fuad Noman II.
Savassi era dotada de um brilho característico quando havia ali o maior número de livrarias por metro quadrado. Hoje em dia não tem mais tanto quanto antes. As lojas chiques e foram atraídas pelos shoppings. A e maioria das que por lá resistem estampam plaquinhas de “black friday”, que significa “sexta negra”, em inglês.
O que demonstra a mania de certas pessoas de imitar as coisas dos norte-americanas, e essa – “black Friday” é cheia de preconceito. Para oferecer mais do mesmo – “queima de estoque” – os lojistas não precisam utilizar-se da língua inglesa, considerando que estamos no Brasil onde falamos português.
A primeira coisa que os colonizadores fazem, como os portugueses, que colonizaram o Brasil, é impor a língua.
A alma da Savassi, aquela energia cantada e decantada por Roberto Drummond se perdeu na voragem do tempo, e a escultura dele em bronze fica a vigiar o que resta do lugar.
Uma máscara branca foi colocada no rosto da escultura e leva as pessoas a fazerem pelos menos duas leituras – será para alertar contra a pandemia do coronavírus? Talvez não, porque as vacinas puseram um termo nela. Pode ser para impedir que comente sobre as transformações por que passa o lugar que amou, antes sofisticado espaço, hoje de lojas vazias, E a mendicância, aqui e ali, é como uma ferida aberta.
Mas até ele mesmo, isto é, a estátua, ressente do que se deu na Savassi, antes cheia de glamour, e atualmente tornou-se uma passagem tanto de carros indo para os condomínios de Nova Lima, e de gente em busca de restaurantes no horário de almoço.
Na realidade, a Savassi se tornou uma versão melhorada do chamado centrão. Lá da Praça Sete dos melhores tempos da capital, quando havia o Café Pérola, onde as questões políticas muitas das vezes eram resolvidas ali, enquanto as autoridades sorviam uma xícara de café forte.
A poetisa Henriqueta Lisboa, assim como Roberto Drummond vão continuar na Savassi como marcas indeléveis de dois tempos, o da poesia e outro da literatura com a de Hilda Furacão dele.
O Drummond morreu no auge da carreira de escritor, mas viveu o suficiente para ser lembrado ali naquele espaço enquanto Savassi existir.
*Jornalista e escritor