Agora, embasbacados, todos assistimos à instalação de uma operação de guerra, bem ao molde do, tornado intrépido em filmes, americano, General Custer. Aliás, com ele mesmo nada parece
24-11-2024 às 08h58
José Altino Machado (*)
Jacareacanga… onde aportei em 1967.
Então, um famoso lugarejo no finzinho do Pará. Sua pista de pouso e controle aeronáutico à época, quando lá cheguei, já fora inclusive palco de, como hoje gosta o Supremo, uma “tentativa de golpe ao estado democrático de direito”. Logo anistiado por verdadeiro Estadista, que ocupava a Presidência.
Comigo, nada diferente ocorreu, apenas uma merda de esquadrilha de mosquitinhos chamados piuns, mais rápido que aviões, quase me devoraram. Fiquei pintado tal qual um iludido botafoguense.
Já à ocasião, era como até hoje, a capital do índio Mundurucu, no rio Tapajós. Bem por isso, o vice-prefeito é indígena. Na Câmara de vereadores, dos onze, sete também o são.
Agora, embasbacados, todos assistimos à instalação de uma operação de guerra, bem ao molde do, tornado intrépido em filmes, americano, General Custer. Aliás, com ele mesmo nada parece, mas como roteiro, pela cavalaria, a arranchada daria todo um filme de descalabro administrativo.
Há mais de setenta anos os Mundurucu trabalham em extração mineral, em parcerias com a comunidade envolvente. Não só para este trabalho como também indo a igreja para casamentos. Nunca aconteceu desentendimentos dignos de nota.
Em passado recente, tão logo o maior desastre ambiental, registrado na Amazônia, um “puta” derrame altamente contaminante de poluentes em rios (Barcarena) produzido pela Hidra, empresa NORUEGUESA.
A influência pelo desastre fez surgir, não mais que de repente, uma Fundação, também NORUEGUESA, bancando passagens e despesas de repórteres da creditada Folha de São Paulo, para matéria detratora de invasores garimpeiros e garimpos na área Mundurucu.
A reportagem foi publicada em dezembro de 2017, com chamada de primeira página. Honestamente, a própria Folha registrou ao pé do relato que as despesas foram bancadas pela interessada, ou seja, a “bem-intencionada” fundação estrangeira.
O mais interessante, que também à Folha, nestes mesmos relatos, tendo ido à aventura, voltou arrependida, por sair de lá às pressas, ao verificar que os tais “garimpeiros”, eram todos indígenas.
O que importa foi o seguido mutismo dos envolvidos, entre financiadores e executores da matéria, pelo fato dos últimos se sentirem usados para cobertura das mortais traquinagens da empresa forasteira.
Pouco mais a frente, um raide da Polícia Federal pôs fogo em draga extratora do tuxaua (cacique) Mundurucu e atirando em um índio que fugia, acertou na nuca do rapaz que juntou-se ao Criador na hora.
O federal, legitimamente, responde processo até os dias de hoje. Por lá, inimputáveis só outros agentes, outros, e sempre ligados excepcionalmente a turma do meio ambiente. Imagino que eles matam, acreditando estar saneando a Amazônia, só pode…
1979. A Vale (Docegeo) entrega relatório que em determinada localidade não existia nada de valor mineral. A seguir garimpeiros, nesse mesmo lugar, descobrem jazida de pouco ouro, coisa de toneladas e toneladas.
Se pode rir, é mesmo de achar graça… Exposta, então, ao mundo a notável Serra Pelada.
Acharam que era gente demais. O governo mandou um chefe para lá, da repressão política e que diziam que na mão dele todos cantavam tal qual um Curió…
Mesmo estando lá, nunca fiquei sabendo por que, e preferi não perguntar. Ele dividiu as catas e limitou a entrada a Serra Pelada a muitos. Principalmente, aos verdadeiros profissionais, mais rebeldes.
Não deu outra. Partiram a novas conquistas, descobrindo, não muito longe, no Rio Maria e em muitos outros locais, mais ao sul. Todos próximos e espremidos entre áreas indígenas.
1986/87. Chamado a Brasília, ainda Ministério do Interior com FUNAI, fui. Ministro com cara de ministro.
Confusão da boa. A área era dos indígenas Caiapós e outros. Sua dimensão, 830.000 hectares, e sem os jazimentos auríferos recém-descobertos. Eles queriam participar do botim tomado ao subsolo da UNIÃO, que nada mais é que a sociedade nacional, o que acredito sermos também.
À ocasião, diferentemente de hoje, os representantes indígenas era gente de expressão e caracteres não corrompidos, nem por valores ou políticas. Sequer havia entre eles, vaidades de matanças de aves silvestres para se sentirem originários da terra.
Sempre presentes, Kochini (Carajás), Tutu Pombo (Caiapó), Marcos Terena(Terenas), Paulo Lunda (Xavantes), Aribina(Ianomami), assim como o Megaron, Álvaro Tucano e tantos outros, agora muitos para uma só memória.
Na FUNAI, sempre gente de respeito. Verdadeiros e autênticos indigenistas, como um Sydney Possuelo, divergente em ideias, mas honesto em propósitos.
No fim, assistido pelo próprio ministro, tudo deu certo, como bem a todos. A área de oitocentos foi estendida a um milhão cento e cinquenta ha.
Foram criadas parcerias e todos satisfeitos. Isto para o cobiçado ouro, pois mais tarde com a ascensão do time do “Tuxaua” Paiakan, querendo mogno, foi para 2 milhões e tantos hectares, indo até o último pau da espécie. Na sequência, em desejando Jaborandi para cosméticos dos ingleses, foi parar em três milhões e fumaça de hectares.
No exagero, engoliram até fazendas modelos da colonizadora mineira anos antes, estabelecidas em presença do presidente Geisel.
E ninguém achou ruim, nem reclamou…
Porém, tem ficado a nós, parceiros da e na história, constrangedor assistir as ocorrências de Jacareacanga e de Redenção, ambas no paraíso brasileiro que é o Pará.
Montaram verdadeira força de combate, ao agrado de interesses internos e, principalmente, externos contra uma quase centenária acomodação social e econômica entre toda uma sociedade trabalhadora índia e não índia.
E não se faz isso.
Governos jamais deveriam promover desmanches daquilo que a sociedade levou tempo a construir. Poderia sim, instruir, corrigir exageros ou erros, jamais destruir uma convivência social que não se utilizou de armas para coexistir.
A um arranjo socioeconômico, realizado durante governos ausentes ou omissos, a intenção de novos mandatários, se bem-intencionados, deverá sempre buscar ajustes, correções e ações coletivas e educacionais. Não devendo jamais utilizar armas e violências letais contra aqueles que fizeram ou fazem, bem diferente de grandes corporações que almejam apenas a um ganho fácil retirado dos esforços de terceiros.
Redenção e Jacareacanga se transformaram em praças de violentas repressões e mesmo algumas prisões. A bem de que ou quem não se sabe. Os próprios indígenas dependentes desta única atividade perdem seu meio de sustento numa economia que participam e, sem retorno, querem participar.
Porém hoje, aqueles do Norte, penalizados por estarem na Amazonia, que tem feito políticos aparecerem e ganharem muito dinheiro, tem pagado com a vida e sorte desta inconsequente e irresponsável administração em curso, mais vaidosa que eficiente.
As ilegalidades cometidas pelo Estado são flagrantes e permeadas de ostensivas impunidades.
Acham mesmo bonitas tais covardias e alardeiam isto, buscando camuflar suas ignorâncias e falta de cultura, até históricas, sobre assuntos de interesses da Nação Brasileira.
Vale lembrar, que garimpeiros são perfeitamente protegidos pela CONSTITUIÇÃO e que juntos aos silêncios irresponsáveis do direito em nosso país, OS ADVOGADOS, são a única profissão nela citada.
É o próprio Estado a obrigação de legalizá-la. O que não faz.
Ainda mais que o órgão encarregado do meio ambiente é dirigido por quem diz trabalhar para a humanidade. Bom seria que explicitasse, se é a humanidade que vive em árvores e seus galhos, ou nas ruas como muitos em nosso país.
Com o passar dos anos, que já se vão muitos, começo a acreditar que a maldade humana assumiu o controle de nossa Nação, que tem permutado as liberdades de trabalhos de muitos humildes nacionais por salões refinados onde acontecem as discursivas e sabidas baboseiras, mas que geram particulares tesouros.
Parecem mesmo, admitir violências, tráficos, drogas, crimes e afins, uma vez que estes movidos aparatos à Amazonia, se contra eles, os fariam deixar de existir.
E enquanto isso, todos se quedam em IRRESPONSÁVEL SILÊNCIO.
Belo Horizonte/Macapá
*José Altino Machado é jornalista