“Quando o crime e a justiça se unem, temos toda a sociedade condenada, desmoralizada. Precisamos resgatar o professor Darcy Ribeiro, em “O Homem Indignado”. Foi um homem ocupado com a dignidade humana.
17-11-2024 às 10h00
José Altino Machado*
Em onze, tenho ainda bem viva uma irmã, a sexta, para lá de polêmica para muitos e principalmente para comigo…, mas, no fundo sei que guarda amor e profunda admiração por mim.
Lê tudo que escrevo, adora comentar os textos, é a forma dela participar e, porque não, dar alguns palpites.
Esta semana enviou-me…
Um apanhado de Dietrich Bonhoeffer, intelectual alemão opositor ao nazismo. Num rasgo de sabedoria, meio a um mundo que se acabava nos rigores do radicalismo, escreveu sobre a perdição do dom da estupidez.
Foi buscar no passado um bom pensador da sociedade moderna, com finalidade única em com críticas me induzir a acomodação e sossegos, coisas por mim não pretendidas.
Segundo ela, escrevo para quem não lê e falo para quem não escuta. E bateu duro citando-o:
“A estupidez não tem uma causa psicológica, mas sim sociológica, ou seja, é contagiosa. A estupidez de uma pessoa precisa da estupidez de outra.”
Fiquei na dúvida, se a dita outra seria eu. Mas, não perguntei.
Vingativo, fui ler sobre a figura germânica para encontrar minha melhor defesa. E achei no próprio pensador, uma pérola de enunciado:
“Quando as pessoas estão passando por um período de estupidez, nunca acreditarão nos argumentos contra sua estupidez; simplesmente os ignorarão se sentindo até orgulhosas de si mesmas e de suas estupidezes”.
E prossegue fazendo uma advertência “…muitas vezes é perigoso tentar persuadir um estúpido com razões, pois ele se sentirá agredido, irritar-se-á facilmente e até tentará atacar”. A acusação também é dele: “Os estúpidos são mais perigosos que os bandidos e os malvados”.
Acontecimentos da semana bem mostraram que a mana enfezada tem lá sua razão. Realmente nada adianta, ficar aqui a teimar escrevendo o que possivelmente não vai ser lido ou levado em conta. Como estupidezes campeiam soltas pelo país afora e sendo exigente defensor de teimosos sonhadores que ainda vislumbram um clarão de inteligente reação a esta estrumaria disseminada com dimensão nacional, continuo a buscar utilidade em ter vivido em geração de muitas conquistas, mas com tristeza em chegar a outras, que as têm perdido.
Talvez pelo huno Dietrich não haver nascido aqui, nem imagens em espelhos mostram as estúpidas e irresponsáveis “inhoranças” aqui cometidas. No Brasil até estupidezes são executadas aos sons das ignorâncias.
Que começaram na vice-presidência da república, ocupada por paulista modelo de bom marido e com cara de cdf no passado. Embora, tenha luz política de começo em garupa de Mário Covas, que Deus o tenha, que o diga. Imagino que esta queda no banheiro daquele a ser substituído, tenha lhe dado frissons de desejos por eterno impedimento.
Pois é, ele deu declarações, falou adoidado da Amazônia e de sua devastação – usou esta palavra. Disse que no governo deles a devastação caiu bem, mas que a meta proposta será de zero desmate. Um senhor vendedor de ilusões…
Logo eu, piloto voado às instâncias dos céus, com quase tantos anos de Amazônia, quantos tem ele de vida, nunca vendo ou presenciando devastações por lá. Substituição de riquezas naturais por outras criadas e necessárias à vida humana, ah, isto sim e muito.
Um belo espetáculo do qual o Brasil pode se orgulhar e esfregar ao rosto de qualquer estrangeiro boquirroto, interessada autoridade ou ongueiro pedinte de dinheiro para melhoria de seu próprio ambiente.
Tenho uma ideia e proposta melhor para ele, outros e seu governo viajante das estrelas. Se bem que a ele possa nada servir por estar já n’outra.
Ninguém, até por motivos religiosos, gosta muito de tocar neste assunto. Porém, quem sabe? No Brasil, quando de sua descoberta, calculava-se possuir 5.000.000 (milhões) de habitantes. Comida farta e panela cheia para todo mundo.
Aí, o danado do Pombal começou a pagar para que todos transassem muito. Uma questão de Estado, mas foi uma “fudança”, como diria um antepassado do Lula, se presente por lá.
De lá para cá, apesar da melhor invenção da humanidade, benza a Deus, a pílula anticoncepcional, tirada aos amazônicos brasileiros, baniwas e taianos, hoje chegamos a 220.000.000 (milhões).
O mundo, ah esses concorrentes hindus, mulçumanos e africanos!! De pouco mais de 500.000.000 (milhões) o planeta alcança hoje quase 8.000.000.000 (bilhões) de dependentes dos esforços de sustento.
E nosso país está nessa, sustenta em cá e lá um oitavo dessa turma externa toda. E para isso não só o formidável esforço de trabalho humano, mas todo um necessário avanço da fronteira agrícola e de toda instrução a uma tecnologia moderna.
Apreciando tanto mandar, o governo poderia com o escudo e aval do STF, proibir esta trepação já histórica dos brasileiros. Poderia até prender e multar aqueles que atravancassem o país com meninos, hoje, e grandes comilões do amanhã.
Com inteligência, poderíamos requisitar este excelente “assessor internacional” da presidência, a ir convencer aos maiores trepadores, hindus, chineses, mulçumanos e outros de meio termo a cooperarem com uma abstinência conceptiva. Poderia até ensiná-los a usar outros instrumentos, as mãos por exemplo. A França, Macron, não precisa, já estão fora disso.
Com tal objetivo, não teríamos o que chamam “devastação”, amazônica, pantaneira, cerradeira, catingueira nem sequer no oceano dos corais. Alcançaríamos excelentes resultados, por necessitarmos menos comidas, menos casas, menos empregos, em vez de mais, menos médicos e remédios, dando sossego aos cubanos.
E até menos carros e caminhões, o que faria Marina feliz para ninguém encher o saco dela, querendo tirar petróleo na costa brasileira.
Mas, a política de “aparecer” tem permitido aflorar o império da estupidez e falando mais alto, mesmo permanecendo calados ostensivamente perante maiores e devastantes desastres.
Dessas, uma estúpida com clara aparência de dolo criminoso, ocorreu há nove anos. Todo um vilarejo e toda uma extensa região foi para o saco. Vidas inocentes que nada tinham com isso se perderam. Tudo com direito a um macabro repeteco, pela mesma ambição e no mesmo Estado, multiplicando por centenas o número de vítimas.
Isto nada incomoda sequer o Presidente e/ou seu vice que come quieto. Afinal, os criminosos promotores de tais eventos são imensamente ricos e poderosamente influentes.
Esta semana, tal empresa mineradora assolou até o sentido natural da justiça, que é se promover justiça. O básico sistema jurídico, envolvido por lábias douradas e bastantes argumentos, decidiu que ninguém foi culpado. Disse tudo ser perfeito pelos homens, comandos e técnicos que não foram ouvidos.
O poder da toga decidiu que absolveu por faltar o “nexo causal” para estabelecimento de culpa ou condenação. Não chegando, entretanto, ao exagero em atribuir a um desígnio Divino, ou a um azar da porra, promovido por Satã.
Entre nós, fica a dúvida a ser respondida também pelo próprio judiciário.
Se não houve culpa de ninguém, se “coitados inocentes acusados”, que constroem as barragens para as empresas, nada devem, quem ou quais foram os molecões que, ambiciosamente, abusaram em seus usos?
Ou então, a conta, como já outras o foram, deveria ser remetida aos infernos, endereço futuro de executivos gananciosos e que já abriga um inteiro universo de homens maus.
Finalmente, que minha irmã saiba que não seria necessário invocar o sábio alemão, para que nos dissesse:
“NÃO HÁ NADA MAIS PERIGOSO QUE UM ESTÚPIDO COM PODER”.
Nós sabemos.
E a continuar, seja a qualquer fim, uma administração implantando políticas com forças armadas especiais, intimidações e repressões, principalmente contra opositores ou aqueles, que humildemente apenas trabalham e produzem, julgando estar sempre escorada em antecipadas decisões Supremas, com certeza levará tudo a acabar mal. Muito mal…
Ainda mais agora, com o contágio dessa insana, desvairada e mais que irracional ocorrência de bombas na capital federal.
Incoerência também bastante estúpida. Estamos fora da época do São João, no Nordeste.
Belo Horizonte/Macapá, 17/11/24
*José Altino Machado é jornalista
Para minha irmã Lulena