Senador David Alcolumbre com o Deputado Hugo Motta - créditos: Agência Senado
28-11-2025 às 12h12
Samuel Arruda* – De Brasília para Redação do Diário de Minas
Nas duas últimas semanas, o clima político entre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a cúpula do Congresso — presidida por Hugo Motta na Câmara e Davi Alcolumbre no Senado — entrou em forte deterioração. A crise ganhou força quando Motta rompeu relações com o líder do PT na Câmara após críticas públicas feitas por parlamentares governistas à condução da Casa, acirrando o distanciamento entre o Planalto e a Mesa Diretora . Paralelamente, no Senado, Alcolumbre se irritou com a indicação feita pelo governo para o Supremo Tribunal Federal, que contrariou sua preferência, criando um impasse sobre a votação do nome ainda neste ano e ampliando a tensão entre Executivo e Legislativo .
O desgaste institucional se intensificou com a ausência dos presidentes das duas Casas na cerimônia de sanção da nova faixa de isenção do Imposto de Renda, interpretada como um gesto claro de afastamento político e descontentamento com o governo . Desde então, projetos considerados prioritários pelo Planalto foram travados, e lideranças do Congresso passaram a admitir que votações sensíveis — inclusive a indicação ao STF — dificilmente ocorrerão antes do recesso, criando um cenário de paralisia legislativa às vésperas de 2026 .
O Planalto tenta conter a crise, mas o acúmulo de atritos coloca em risco a capacidade de Lula de avançar sua agenda no fim do ano. A relação, que já vinha marcada por desconfiança, atingiu neste período seu ponto mais crítico, com o Executivo politicamente isolado e os presidentes da Câmara e do Senado operando em modo de enfrentamento aberto, pressionando o governo num momento crucial de articulação política .
A crise que tomou forma nas últimas semanas revela mais do que um atrito momentâneo: nos bastidores, líderes do Congresso avaliam que Hugo Motta e Davi Alcolumbre decidiram “marcar território” antes da disputa por espaço político em 2026. Ambos enxergam que o governo perdeu capacidade de articulação e que, sem uma base sólida, o Planalto depende cada vez mais da boa vontade das cúpulas das Casas — circunstância que eles agora usam como moeda de pressão. A escolha do governo para o STF, feita sem alinhar expectativas com Alcolumbre, e as críticas de parlamentares do PT à condução da Câmara foram interpretadas como sinais de desrespeito à autonomia do Legislativo, criando um ambiente em que recuos, gestos simbólicos e até ausências em cerimônias se tornam formas de demonstrar força.
Nos corredores da Câmara e do Senado, a leitura é de que essa tensão não deve arrefecer tão cedo. Deputados e senadores comentam que, enquanto o governo não reorganizar sua articulação — e não reconhecer o papel central de Motta e Alcolumbre nas negociações — a tendência é de que projetos relevantes continuem travados ou negociados a custos mais altos. A aproximação do ano eleitoral aumenta a cautela e reduz o interesse das lideranças em entregar vitórias fáceis ao Executivo. Para muitos, o impasse atual é um aviso claro de que Lula precisará reconstruir pontes imediatamente se quiser evitar um 2026 de isolamento político e avanços legislativos mínimos.
*Samuel Arruda é jornalista e articulista

