Generais iniciam cumprimento de penas - créditos: divulgação
26-11-2025 às 15h11
Samuel Arruda*
O ex-presidente Jair Bolsonaro iniciou nesta terça-feira (25) o cumprimento da pena de 27 anos e 3 meses de prisão, após decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal (STF), que considerou encerrados os recursos contra sua condenação por liderar um plano de golpe de Estado.
A condenação de Bolsonaro, originalmente proferida em setembro, apontou sua liderança em uma organização criminosa e o envolvimento em conspiração armada para abolir violentamente o Estado de Direito — com planos que incluíam tentativa de assassinato de autoridades, entre elas o então presidente-eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
Bolsonaro estava em prisão domiciliar desde agosto, mas foi preso preventivamente após ser flagrado tentando remover sua tornozeleira eletrônica com um ferro de solda — uma atitude interpretada pela Justiça como “risco concreto de fuga”.
Junto com ele, ex-ministros e militares de alta patente — entre generais, almirantes e autoridades civis — também começam a cumprir penas determinadas pelo STF. Para muitos, este momento representa o fim de um capítulo sombrio na política brasileira e marca um “gigante passo institucional”: pela primeira vez um ex-presidente e altos oficiais militares serão presos por tentativa de golpe de Estado.
As reações no país foram imediatas e polarizadas. Para parte da sociedade e setores políticos, a prisão simboliza justiça e reafirmação da democracia. Para os apoiadores de Bolsonaro, a decisão é vista como “perseguição política”. Em Brasília e outras capitais, manifestações a favor e contra mobilizaram milhares de pessoas.
Enquanto isso, líderes internacionais acompanham com atenção o desfecho judicial brasileiro — que, segundo analistas, poderá redefinir o papel das Forças Armadas e o alcance da responsabilização de autoridades por crimes contra a democracia.
O início do cumprimento da pena de 27 anos e 3 meses de prisão pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, após decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal, provocou repercussões em todo o país — e em Minas Gerais, considerado historicamente um dos estados mais sensíveis e decisivos da política nacional, a reação ganhou contornos particulares.
Mesmo antes da condenação se tornar definitiva, Minas já era vista por analistas como um dos principais termômetros do impacto político do processo. Isso porque o eleitor mineiro costuma combinar conservadorismo moderado, pragmatismo econômico e uma aversão a rupturas institucionais — características que tornaram o estado um fiel da balança em diversas eleições presidenciais.
Nas últimas horas, após a prisão, a temperatura política mineira subiu. Em Belo Horizonte, manifestações simultâneas — embora menores que as registradas em outros períodos turbulentos — mostraram a divisão que se reflete no cenário nacional. Apoiadores do ex-presidente acusaram o STF de agir com motivação política, enquanto grupos favoráveis à decisão defenderam que o cumprimento da pena reafirma o compromisso do país com o Estado de Direito.
No interior, onde Bolsonaro manteve força eleitoral expressiva, a reação foi mais contida, porém marcada por perplexidade. Em cidades do Triângulo e do Sul de Minas, comerciantes e lideranças locais expressaram preocupação com os impactos da crise política sobre a economia regional, ainda sensível a instabilidades nacionais. Já no Vale do Jequitinhonha e na Zona da Mata, historicamente mais alinhados a discursos progressistas, o sentimento predominante foi de alívio e de “encerramento de um ciclo”, como descreveu um professor de história ouvido pela reportagem.
Especialistas lembram que Minas tem tradição de “moderar extremos”: atenta aos reflexos práticos das disputas em Brasília, a população tende a reagir de forma menos impulsiva que outros grandes colégios eleitorais. Por isso, a maneira como os mineiros vão absorver a prisão de Bolsonaro nas próximas semanas pode indicar o rumo da reorganização das forças políticas nacionais — sobretudo com a proximidade das eleições em 2026 e a inevitável disputa sobre quem herda o capital político deixado pelo ex-presidente.
Enquanto o cenário evolui em Brasília novas decisões judiciais se aproximam, Minas volta a ocupar seu lugar de sempre no mapa político: o estado que observa com cautela, pesa consequências e, muitas vezes, define o tom da narrativa nacional.
*Samuel Arruda é jornalista e articulista

