CCJ do Senado Federal aprova o fim da reeleição - créditos: Agência Senado
26-11-2025 às 12h12
Soelson B. Araújo*
A aprovação, pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, da proposta que extingue a reeleição para cargos do Executivo — presidente, governadores e prefeitos — marca um dos movimentos mais significativos da agenda de reforma política recente. A PEC estabelece mandatos de cinco anos, unifica o calendário eleitoral e altera a lógica de permanência no poder que vigora no país há mais de duas décadas.
A medida surge em meio a um ambiente de evidente desgaste do sistema político. A população brasileira demonstra há anos forte insatisfação com a forma como o jogo eleitoral é conduzido, especialmente diante da percepção de que a reeleição favorece quem já está no cargo, criando desequilíbrios e estimulando práticas voltadas mais à manutenção do poder do que à entrega de resultados reais à sociedade.
Hoje o sistema político atual gera insatisfação e grande parte dos eleitores enxerga este modelo como pouco transparente e pouco responsivo. A reeleição, aos olhos de muitos, distorce a competição: quem ocupa o cargo dispõe de maior visibilidade, acesso à máquina pública, “distribuição de emendas impositivas” proporcionando melhores condições de influenciar o ambiente político, fatores que tornam a disputa desigual. Esse cenário contribui para a sensação de estagnação, onde os mesmos grupos se mantêm no comando e a renovação se torna limitada.
Além disso, cresce a percepção de que o sistema eleitoral, tal como está desenhado, incentiva políticas de curto prazo, voltadas a gerar popularidade imediata, e não projetos de Estado com visão estratégica e desenvolvimento contínuo.
O cidadão brasileiro espera dos políticos mais previsibilidade, seriedade e foco em resultados concretos. Espera que governantes ajam com responsabilidade, transparência e compromisso com o interesse público — e não com a próxima eleição. A demanda por renovação não é apenas simbólica: ela expressa uma urgência por práticas políticas mais equilibradas, por alternância de poder e por competições reais, onde todos os candidatos tenham condições mais similares de disputa.
A proposta aprovada pela CCJ dialoga diretamente com esse anseio social. Ao eliminar a possibilidade de recondução imediata e aumentar o tempo de mandato, busca-se reduzir incentivos para ações oportunistas e dar mais estabilidade ao planejamento de políticas públicas.
Ainda assim, o fim da reeleição não resolve, por si só, o conjunto de problemas que alimenta a insatisfação popular. A sociedade espera reformas mais profundas e integradas, que incluam maior transparência partidária, fortalecimento dos mecanismos de fiscalização, regras mais claras para o financiamento político e incentivos reais para a representatividade.
A mudança aprovada é um passo importante, mas não pode ser vista como solução isolada. Para que a política reconquiste a confiança do eleitor, será necessário avançar em medidas que tornem o sistema mais justo, eficiente e conectado às necessidades concretas da população.
Os eleitores e o povo em geral esperam que essas mudanças não fiquem apenas no papel, mas sejam implementadas com a agilidade que o momento exige. Há uma clara impaciência diante de reformas que avançam lentamente enquanto problemas urgentes se acumulam. Entre as demandas mais mencionadas está o voto distrital, visto por muitos como uma ferramenta capaz de fortalecer regiões historicamente esquecidas, ampliando a representatividade e aproximando o eleitor dos seus verdadeiros representantes. Para grande parte da população, esse modelo tem o potencial de corrigir desigualdades regionais, dar voz às comunidades locais e tornar o sistema político mais próximo, eficiente e responsável.
Essa expectativa crescente revela um país que não perdeu a esperança. Pelo contrário: mostra um Brasil que sabe exatamente o que quer — um Estado mais ágil, transparente, equilibrado e conectado às necessidades reais da sociedade. Cada avanço, como o fim da reeleição, abre espaço para novas etapas. E o eleitor, cada vez mais consciente e exigente, demonstra que continuará pressionando por transformações profundas até que a política finalmente reflita a grandeza e a força do povo brasileiro.
*Soelson B. Araújo é empresário, jornalista e escritor

