Belo Horizonte se despede de Gervásio Horta - créditos: divulgação
24-11-2025 às 15h02
Direto da Redação, “Nota de pesar”
A cultura mineira vive um momento de profundo luto com a perda de Gervásio Horta, jornalista, compositor e símbolo vivo da memória de Belo Horizonte, que faleceu neste final de semana, aos 88 anos, vítima de um AVC. Seu corpo foi sepultado no Cemitério Parque da Colina, na capital mineira.
Um homem e muitas canções: Nascido em Teófilo Otoni em 2 de agosto de 1937, Gervásio mudou-se ainda jovem para Belo Horizonte, na busca por sonhos maiores. Sua trajetória profissional foi marcada pela versatilidade: além de jornalista — atuou em veículos como a revista Silhueta, o jornal Última Hora e o Diário da Tarde.
Mas foi na arte de compor músicas que Gervásio encontrou sua forma mais sublime de expressar amor por Minas Gerais em especial por Belo Horizonte. Ao longo de sua vida, compôs cerca de 150 músicas, muitas delas verdadeiros retratos da capital mineira e de sua alma popular.
Entre seus grandes sucessos estão músicas que se tornaram parte integrante da identidade de BH: “Adeus, Lagoinha”, parceria com Milton Rodrigues Horta, “Rua da Bahia”, composta com Rômulo Paes, “Bela Belô”, e até sambas que falam de lugares tão simbólicos quanto os cemitérios da cidade.
Em um de seus momentos mais criativos e carinhosos, Gervásio compôs o “Sambatério”, celebrando poeticamente cemitérios de Belo Horizonte — Bosque da Esperança, Parque da Colina, Consolação, Saudade, Bonfim — transformando locais de silêncio em uma canção de memória e afeto. Para muitos, isso mostra como ele via beleza e poesia até onde poucos olhavam, destacando a riqueza simbólica da cidade.
Gervásio era muitas vezes chamado de “menestrel de Belo Horizonte”, um título merecido para quem dedicou grande parte de sua obra a cantar a cidade. Ele carregava uma missão: preservar a memória urbana, afetiva e cultural de Belo Horizonte.
Seus sambas, seus jingles (ele também compôs para campanhas políticas e figuras importantes), suas parcerias com grandes nomes da música mineira, tudo isso construiu uma ponte entre gerações, fazendo com que a história da capital fosse transmitida por acordes e versos.
Um legado que ecoa
Com sua partida, Gervásio deixa um legado que continuará ecoando. Minas Gerais perde um guardião da sua própria memória que seguirá vivo: nas rádios, nas rodas de samba, nas praças e nos becos onde suas músicas foram inspiradas. Ele não apenas cantou a cidade, mas a ensinou a amar — em cada verso, em cada melodia.
Para os moradores de Belo Horizonte, especialmente os mais antigos, suas composições são trilhas sonoras de lembranças: as manhãs na Praça da Liberdade, as vozes do Mercado Central, as esquinas da Rua da Bahia — lugares que Gervásio transformou em poesia.
Seu falecimento mobilizou o cenário cultural local: artistas, jornalistas e moradores expressaram nas redes sociais e nos palcos sua gratidão por tudo que ele construiu. A imprensa mineira destacou o papel de Gervásio não apenas como músico, mas como intelectual popular, alguém que soube fundir jornalismo, boemia e cidadania.
Em um momento em que a memória das cidades corre risco de apagamento, figuras como Gervásio Horta lembram que a cultura não é apenas entretenimento — é documento vivo, arquivo afetivo, identidade. Sua voz pode não ecoar mais em estúdios, mas seus sambas continuarão a embalar a alma de Belo Horizonte.
Que a morte de Gervásio Horta não seja apenas uma despedida, mas um chamado: para revisitarmos suas músicas, para cantar suas letras, para repensar como valorizamos os lugares que ele tanto amou. Que novos compositores se inspiram em sua sensibilidade; que os cidadãos ouçam seus sambas como lições de pertencimento; que Belo Horizonte, por meio dele, continue viva em notas.
Hoje, Minas diz adeus — mas, ao som de suas canções, também celebra. Obrigado, Gervásio. Seu legado permanece eterno.

