Prisão de Bolsonaro embaralha ainda mais o cenário político brasileiro - créditos: divulgação
24-11-2025 às 10h46
Samuel Arruda*
A prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado por tentativa de golpe após as eleições de 2022, provocou uma reacomodação imediata no tabuleiro político brasileiro. A decisão do STF é vista por parte da sociedade como uma vitória institucional, mas seus efeitos práticos vão muito além do campo jurídico.
Para a esquerda, o episódio representa um triunfo simbólico da democracia e reforça o discurso de defesa das instituições. A desorganização inicial do bolsonarismo facilita a articulação política governista e reduz o peso do antagonista que dominou o cenário nos últimos anos. Em contrapartida, a esquerda perde seu adversário mais conveniente: Bolsonaro operava como um polo previsível de mobilização. Sua prisão pode enfraquecer a retórica da polarização e abrir espaço para uma direita renovada. Há também o risco da narrativa de vitimização reativar sua base mais fiel.
Já a direita enfrenta um duplo movimento. Por um lado, a saída forçada de Bolsonaro abre espaço para novos nomes, potencialmente mais moderados e competitivos. A reorganização interna pode fortalecer o campo conservador a médio prazo. Por outro lado, a ausência do líder carismático tende a fragmentar o bloco e acentuar disputas por herança política. Além disso, a condenação reforça o desgaste do bolsonarismo entre eleitores moderados, ampliando os desafios para quem tenta herdar seu capital político sem carregar o ônus da radicalização.
Enquanto isso, o centro político emerge como possível fiador de alianças e fiel da balança em um cenário mais aberto e menos previsível. A repercussão da prisão não encerra o bolsonarismo, mas o empurra para uma nova fase — talvez mais difusa, porém ainda influente.
*Samuel Arruda é jornalista e articulista

