Desfile de 7 de Setembro em 1977 - créditos: divulgação
23-11-2025 às 15h10
Solange Mendes*
Pode soar meio machista, mas foi assim que se deu. Aliás, houve até uma aposta: se ele me conquistasse, ganharia um engradado de cerveja. Pois não é que ele ganhou a aposta e, de quebra, eu.
No desfile daquele ano, eu iria representar a Aeronáutica, e no nosso pelotão não poderíamos usar saias curtas, só três dedos acima dos joelhos. Na minha turma animada, consegui convencer minhas amigas mais chegadas, a fazer as saias um palmo acima e deu certo, pois lá chegando, a professora de educação física, responsável pelo desfile, não pode mandar sair todo o pelotão, ainda mais que as outras quando nos viram, resolveram dobrar a saia na cintura, e lá fomos nós e nossos tocos de saias!
Em Belo Horizonte, uns dias depois, assistindo os slides que alguém havia tirado, Tadeu me viu e logo se interessou. Não sei o que viu, porque aquelas pernas que ainda continuam finas, não eram atrativo para ninguém, comparadas as pernas das outras e foi assim que quando ele quis saber de mim, alguém respondeu que eu tinha um defeito: era apaixonada e só tinha olhos pra outra pessoa, ele então se doeu nos brios e daí surgiu a aposta!
Pouco depois era Natal e ele, chegando em Itaobim, foi a uma festa na casa da prima, que era minha amiga, e pediu que ela me convidasse. Eu, pura e inocente, resolvi durante a Missa do Galo, deixar minha família ouvindo a pregação do padre e sair à francesa para dar um bordejo na festa. Lá, já animada com as possibilidades dos moços bonitos, me deparei com um olhar de bico doce, ele dançava com alguém e eu sem graça, fui à cozinha pegar uma bebida, quando surgiu na minha frente a criatura, magro, cabeludo, de óculos e uma carinha de anjo que eu não resisti…
Nós nos pegamos na hora e aos beijos, quase derrubando o muro da casa, eu ouvi o sino da igreja, sinal que a missa acabara, saí em disparada, ele no meu encalço, e assim numa noite de Natal eu ganhei o melhor presente da minha vida, que me escolheu e me acolheu com muito amor, paz e alegria.
Hoje em casa, com os filhos criados, os netos e os bisnetos enchendo nossas vidas de alegria, apesar dos manifestos por dias melhores pipocando no país, eu só agradeço a D. Pedro I, que até hoje, faz com que os desfiles da Independência, no interior, tragam de volta pessoas pra tocar na banda ou ver a banda e os amigos e amigas desfilarem.
E foi assim que a Independência do Brasil me faz ser dependente desse amor até hoje!
*Solange Mendes é colunista do Diário de Minas

