A Síndrome do Domingo à Noite - créditos: divulgação
11-11-2025 às 10h10
Prof. Raphael Silva Rodrigues*
O sol se põe, as luzes da rua começam a acender e uma música familiar de um programa de TV ecoa ao longe. Para muitos, este não é apenas o fim de um dia, mas o fim de uma breve liberdade. É nesse momento que ela se instala, sutil e persistente: uma ansiedade, um peso no peito, uma melancolia que transforma as últimas horas de descanso em um velório para a semana que ainda nem começou.
Se você se reconhece nesse sentimento, você não está sozinho. Bem-vindo à Síndrome do Domingo à Noite.
Costumamos tratá-la como uma piada, um meme compartilhado em redes sociais, uma parte inevitável e resignada da vida adulta. “Ninguém gosta da segunda-feira”, dizemos, dando de ombros. Mas essa angústia recorrente é muito mais do que um simples descontentamento. Ela é um sintoma. Um alarme silencioso que seu corpo e sua mente disparam para avisar que algo está fundamentalmente desalinhado.
A Síndrome do Domingo à Noite não é sobre odiar a segunda-feira. É sobre o luto antecipado por ter que abandonar, por cinco longos dias, a pessoa que você realmente é.
Pense nisso. Quem é você no sábado de manhã? Talvez seja a pessoa que acorda sem despertador, que toma um café demorado, que se dedica a um hobby, que ri alto com os amigos, que se aventura em um parque ou se perde em um bom livro. Esse “eu” do fim de semana é espontâneo, curioso, relaxado. É a versão mais autêntica de você.
Agora, quem você precisa se tornar na segunda-feira às oito da manhã? O profissional focado, o cumpridor de prazos, a pessoa que navega por políticas de escritório, que responde a e-mails com uma polidez calculada e que, muitas vezes, guarda seus verdadeiros interesses e paixões para um momento que parece nunca chegar.
Vivemos, na prática, duas vidas. Uma, curta e vibrante, que acontece entre a noite de sexta e a tarde de domingo. Outra, longa e exaustiva, que preenche todo o resto. A Síndrome do Domingo à Noite é a dolorosa fronteira entre esses dois mundos. É o pedágio emocional que pagamos por viver uma vida fraturada.
A sociedade nos ensinou a romantizar essa troca. “Trabalhe duro agora para relaxar depois.” Sacrifique sua juventude e sua saúde em nome de uma estabilidade futura. O problema é que a vida acontece no agora. Esperar pelo fim de semana, pelas férias ou pela aposentadoria para, enfim, “viver de verdade” é assinar um contrato de adiamento com a própria felicidade. É como comprar um ingresso para um show incrível e passar a maior parte do tempo no lado de fora, apenas ouvindo o som abafado.
Mas e se a solução não for tentar esticar o fim de semana, e sim resgatar um pouco dele para dentro da sua semana? E se o objetivo for borrar as fronteiras entre o “eu de folga” e o “eu de trabalho” até que eles se reconheçam no espelho?
O processo de cura para a Síndrome do Domingo à Noite pode começar com uma investigação corajosa. Pergunte a si mesmo, com a honestidade de quem não tem nada a perder: O que, na minha segunda-feira, me causa tanto pavor? É uma tarefa específica? Um ambiente tóxico? A ausência de propósito? O que eu faço no sábado que me faz sentir tão vivo? É a liberdade? A criatividade? A conexão com pessoas queridas?
Não se trata de pedir demissão amanhã ou de fazer uma mudança radical e imprudente. Trata-se de iniciar uma revolução silenciosa. Trata-se de reivindicar pequenos territórios de si mesmo no mapa da sua semana.
Comece pequeno. Que tal dedicar uma hora da sua terça-feira para aquele curso online que você sempre quis fazer? Ou usar seu horário de almoço na quarta para uma caminhada sem rumo, apenas observando o mundo? Que tal se matricular naquela aula de dança, cerâmica ou programação que você adiou por anos, mesmo que seja apenas uma vez por semana?
Esses atos não são fugas; são atos de integração. Cada pequena ação que alinha sua rotina diária com seus valores e paixões é um golpe contra a tirania do calendário. É um lembrete de que sua identidade não pode ser ligada e desligada como um interruptor.
Imagine um domingo à noite em que, em vez de pavor, você sente uma calma satisfação. A satisfação de quem viveu um fim de semana pleno, mas que também sabe que a segunda-feira guarda um projeto interessante, que a terça tem um encontro com um hobby e que a semana inteira é um campo aberto para ser quem você é.
A meta não é amar as segundas-feiras. A meta é construir uma vida da qual você não precise desesperadamente escapar. Uma vida que se sente como sua, não apenas aos sábados, mas em todos os dias que a compõem.
A Síndrome do Domingo à Noite é um chamado. Um convite para parar de viver em prestações e começar a reivindicar a vida inteira. A questão é: você vai continuar apertando o botão “soneca” nesse alarme ou vai finalmente se levantar para ver o que ele está tentando lhe dizer?
*Raphael Silva Rodrigues: Doutor e Mestre em Direito (UFMG), com pesquisa Pós-doutoral pela Universitat de Barcelona, na Espanha. Especialista em Direito Tributário e Financeiro (PUC/MG). Professor do PPGA/Unihorizontes. Professor de cursos de Graduação e de Especialização (Unihorizontes e PUC/MG). Advogado e Consultor tributário.

