Créditos: Ricardo/PR
10-11-2025 às 17h00
Roberto Barbosa*
Direto de Belém- PA

Com um discurso firme em defesa de uma transição justa e inclusiva para uma economia de baixo carbono, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu oficialmente, nesta segunda-feira, 10, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém. O evento, que marca a primeira edição realizada em solo amazônico, segue até o dia 21 de novembro, reunindo líderes globais, cientistas e representantes da sociedade civil.
A blue zone está lotada de pessoas de diferentes nações que vieram participar da chamada COP da Floresta, na capital paraense, coração da Amazônia.
Em sua fala de abertura, Lula destacou que a emergência climática não pode ser dissociada da desigualdade social, e que o combate às mudanças do clima deve ser acompanhado de justiça e equidade entre países ricos e pobres.
“A emergência climática é uma crise de desigualdade. Ela expõe o que já é inaceitável e aprofunda a lógica perversa que define quem tem o direito de viver e quem é condenado a morrer. Mudar pela escolha nos dá a chance de um futuro que não seja ditado pela tragédia”, declarou o presidente, sob aplausos da plateia.
O chefe de Estado brasileiro pediu que as negociações avancem com responsabilidade e sensibilidade, citando o pensador indígena Davi Kopenawa Yanomami como inspiração para que os líderes encontrem “clareza de pensamento” diante da urgência climática.
Amazônia no centro do debate
Ao abrir a conferência no coração da Amazônia — o bioma mais biodiverso do planeta e um dos principais reguladores do clima global —, Lula lembrou que a região abriga quase 50 milhões de pessoas e 400 povos indígenas distribuídos em nove países.
“Trazer a COP para o coração da Amazônia foi uma tarefa árdua, mas necessária. A floresta não é uma abstração, é a casa de milhões de pessoas que enfrentam desafios diários”, afirmou.
O presidente reforçou ainda o papel dos povos indígenas e comunidades tradicionais como guardiões naturais das florestas e destacou que mais de 13% do território brasileiro é formado por terras indígenas demarcadas — número que, segundo ele, “ainda precisa crescer”.
Críticas aos negacionistas e defesa da ciência
Em outro momento de seu discurso, Lula fez duras críticas aos grupos que negam o aquecimento global e desvalorizam a ciência. Ele reafirmou que esta será “a COP da verdade”, em contraponto à desinformação.
“Na era da desinformação, os obscurantistas rejeitam as evidências científicas, controlam algoritmos, espalham o medo e o ódio. É hora de impor uma nova derrota aos negacionistas. Estamos na direção certa, mas na velocidade errada”, disse.
O presidente alertou que o planeta vive uma “tragédia do presente” e não apenas uma ameaça futura, mencionando exemplos recentes de desastres climáticos, como o furacão Melissa, no Caribe, e o tornado que atingiu o Paraná, além das enchentes e secas extremas que vêm atingindo várias partes do mundo.
Governança global e proposta de um Conselho do Clima
Lula também defendeu a criação de um Conselho Mundial do Clima, vinculado à Assembleia Geral das Nações Unidas, para fortalecer a governança global e garantir que as promessas feitas nos acordos internacionais sejam de fato cumpridas.
O presidente cobrou ações concretas, financiamento climático e transferência de tecnologia aos países em desenvolvimento, além de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) mais ambiciosas por parte das grandes economias.
“Avançar requer uma governança global mais robusta, capaz de transformar palavras em ações”, afirmou.
Segundo Lula, o setor de combustíveis fósseis, responsável por cerca de 75% das emissões globais, precisa ter um plano claro de transição. “Precisamos acelerar a mudança, porque cuidar do clima é muito mais barato do que fazer guerra”, declarou, em alusão aos gastos militares mundiais que ultrapassam US$ 2 trilhões por ano.
BELÉM ACOLHE O MUNDO
Antes de iniciar o discurso oficial, o presidente quebrou o protocolo para saudar o povo paraense e agradecer pela recepção calorosa aos participantes da conferência.
“Os visitantes serão recebidos por um povo alegre e acolhedor, que vai cuidar de todos com muito carinho”, disse, arrancando aplausos. Ele ainda fez um convite bem-humorado aos estrangeiros: “Experimentem a maniçoba. É uma delícia e símbolo da nossa cultura”.
Com a presença de delegações de quase 200 países, a COP30 transforma Belém, nas próximas duas semanas, no principal palco das negociações climáticas globais — e também num símbolo de esperança de que o mundo possa reconciliar desenvolvimento e preservação ambiental a partir da Amazônia.
MOVIMENTAÇÃO
Na área no entorno do Parque da Cidade, onde está se realizando a COP 30, o esquema de segurança é grande. Veículos blindados do Exército, Polícia Militar, Polícia Federal, Corpo de Bombeiros Militar estão dispostos por toda parte. Os colaboradores falam em português e inglês para facilitar a comunicação com conferencistas internacionais.
Quem chega de carro próprio, o deixa estacionado a mais de dois quilômetros do centro dos debates, haja vista o impedimento de tráfego de veículos na área do Parque da Cidade e ruas adjacentes. Inclusive, em algumas vias, está expressamente proibido o estacionamento, tudo para facilitar o trânsito de veículos oficiais com as comitivas governamentais que chegam a todo instante.
EVENTOS PARALELOS
Eventos paralelos ao centro de debates ocorrem por toda parte na capital paraense. Estima-se que ocorram debates na Praça da Bandeira e Universidade Federal do Pará. Organizações não-governamentais também devem se manifestar, mas os esquemas de segurança estão prontos para evitar tumultos no entorno do Parque da Cidade.
Sob Sol forte e temperatura de 31 graus em Belém no começo da tarde de hoje, o que se observa é um clima animado entre centenas de milhares de pessoas que estão no vai-e-vem pela Blue Zone, o mesmo ocorrendo, também, na Green Zone, bem como, na Praça da Bandeira. Uma miscelânea de culturas, povos e línguas diferentes e de vários pontos do planeta. É a COP da Floresta, em Belém.
*ROBERTO BARBOSA e Nazaré Sarmento e agências de Notícias

