Garimpo ilegal no Rio Araçuaí, principal afluente do Rio Jequitinhonha - créditos: divulgação
07-11-2025 às 08h22
Samuel Arruda*
Uma operação conjunta das forças de segurança e de órgãos ambientais foi deflagrada nesta quarta-feira (5) para combater o garimpo ilegal no Rio Araçuaí, um dos principais afluentes do Vale do Jequitinhonha. Batizada de Operação Falcão Dourado, a ação mobilizou a Polícia Federal (PF), a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) e a Agência Nacional de Mineração (ANM).
Durante a operação, diversas dragas usadas na extração ilegal de minérios foram inutilizadas. Segundo a PF, os equipamentos funcionavam sem qualquer licenciamento ambiental, configurando crime ambiental. Outros maquinários e materiais foram apreendidos, e pessoas envolvidas foram presas em flagrante delito.
A operação ocorre em um momento importante para o Brasil que sedia a COP-30, conferência global sobre mudanças climáticas, e reforça o compromisso das instituições nacionais com a preservação dos recursos hídricos e o combate à exploração predatória.
O garimpo ilegal no Rio Araçuaí representa uma ameaça direta não apenas à biodiversidade local, mas também à segurança hídrica de dezenas de municípios do Vale do Jequitinhonha. A Bacia Hidrográfica do Rio Araçuaí é fundamental para o abastecimento humano, a agricultura familiar e a manutenção dos ecossistemas da região — uma das mais vulneráveis socioeconomicamente de Minas Gerais.
O uso de mercúrio metálico na separação do ouro é especialmente preocupante: essa substância altamente tóxica contamina as águas, o solo e os peixes, podendo provocar danos neurológicos irreversíveis em populações expostas, como comunidades ribeirinhas e rurais que dependem do rio para consumo e subsistência. Além da contaminação química, o garimpo causa assoreamento, perda de biodiversidade aquática e redução da qualidade da água, comprometendo o equilíbrio ambiental e a disponibilidade hídrica de toda a bacia.
Especialistas alertam que a degradação do Araçuaí pode agravar o cenário de escassez de água no semiárido mineiro, afetando diretamente o fornecimento para as cidades e aumentando a vulnerabilidade social da população local.
As instituições envolvidas afirmam que as ações de fiscalização e inteligência serão ampliadas para impedir o avanço do garimpo ilegal em Minas e em outras regiões do país. Os suspeitos poderão responder por crimes ambientais, usurpação de bens da União e associação criminosa, cujas penas, somadas, podem ultrapassar dez anos de prisão.
Mais do que uma operação policial, a Falcão Dourado evidencia a urgência de proteger as bacias hidrográficas brasileiras — em especial a do Rio Araçuaí — como patrimônio vital para o abastecimento de água potável, a saúde pública e a resiliência ambiental diante das mudanças climáticas.
Samuel Arruda é jornalista

