Créditos: Paulo Lacerda
05-11-2025 às 09h42
Sérgio Moreira*
Uma viagem pela tradição cultural afro-americana e afro-brasileira, destacando a importância de artistas negras e negros na história da música clássica. É este o fundamento do concerto “Sobre Tons”, que acontece no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes no dia 7 de novembro, a partir das 20h. A apresentação gratuita reúne a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais – sob regência de sua maestra titular, Ligia Amadio –, o Coral Lírico de Minas Gerais e as solistas mineiras Edna D’Oliveira e Edineia de Oliveira, na interpretação de peças brasileiras, spirituals e outras composições que atravessam a história dos povos que compõem a diáspora africana. Os ingressos estão disponíveis gratuitamente na bilheteria do Palácio das Artes e na plataforma Eventim; será possível retirar até dois pares por CPF. O concerto “Sobre Tons” é realizado no âmbito do programa homônimo, do Ministério Público de Minas Gerais, em parceria com a Fundação Clóvis Salgado.
Será dia 7 de novembro, às 20h, no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes, em Belo Horizonte, com classificação indicativa: 10 anos. Entrada gratuita; ingressos disponíveis na bilheteria do Palácio das Artes e na plataforma Eventim (será possível retirar até dois pares por CPF)
Informações para o público: (31) 3236-7307 / www.fcs.mg.gov.br
Além das vozes e instrumentos, o concerto contará ainda com passagens narradas pelas solistas e projeções visuais, destacando cantoras negras brasileiras importantes para a história da música clássica no país desde o século XVIII, como Joaquina Maria da Conceição – mais conhecida como Joaquina Lapinha –, Camila Maria da Conceição, Zaíra de Oliveira, Maura Moreira e Maria d’Apparecida. O repertório da apresentação reúne obras brasileiras, a exemplo do “Kyrie” da “Missa Afro-Brasileira” do maestro Carlos Alberto Pinto Fonseca; spirituals de autoria anônima, como “My Lord What a Morning”, “Calvary”, “Sometimes I Feel” e “City Called Heaven”; canções religiosas tornadas célebres na voz de intérpretes negras/os, tais quais “Amazing Grace” e “Grandioso és Tu”; o “Hino Nacional da África do Sul”, composto pelos sul-africanos Enoch Sontonga, Jeanne Zaidel-Rudolph e Marthinus Lourens de Villiers; e diversas outras composições.
.O concerto “Sobre Tons” é viabilizada pela Lei Federal de Incentivo Cultura. pelo Ministério da Cultura, Ministério Público de Minas Gerais, Secretaria de Estado de Cultura e Turismo e Fundação Clóvis Salgado, com patrocínio da Cemig, Instituto Cultural Vale, Grupo Fredizak, Instituto Unimed-BH, ArcelorMittal e Vivo, e correalização da APPA – Cultura & Patrimônio.. O Palácio das Artes integra o Circuito Liberdade, que reúne 35 equipamentos com as mais variadas formas de manifestação de arte e cultura em transversalidade com o turismo. A ação é viabilizada pelo Sobre Tons, programa antirracista do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), por meio do Fundo Especial do Ministério Público de Minas Gerais – FUNEMP, e pela Lei Federal de Incentivo à Cultura. Vale-Cultura. Governo do Brasil, do lado do povo brasileiro.
A soprano mineira Edna D’Oliveira e sua irmã, a mezzosoprano Edineia de Oliveira, ambas nascidas em Belo Horizonte, estão entre as mais conceituadas cantoras líricas do cenário contemporâneo brasileiro. Edineia conta que essa jornada de sucesso das duas, especialmente como solistas de óperas, começou justamente no Palácio das Artes, onde fizeram parte do Coral Lírico de Minas Gerais. “Voltar ao Palácio das Artes em diversas produções (inclusive na incrível ópera ‘Matraga’, em 2023 e 2025), sempre é uma sensação de alegria da primeira casa. Aqui encontramos amigos de adolescência, contemporâneos das escolas de música e grandes companheiros da caminhada do coral e orquestra, que enchem o nosso coração de alegria e esperança”, celebra.
Há décadas, as duas combinam seu trabalho no palco com um compromisso também por mais justiça e oportunidades para artistas negras/os, resgatando no processo a memória das pessoas responsáveis por abrir caminhos no passado. “Em tempos atuais, negras e negros podem ser vistos no elenco de grandes óperas. Mas nem sempre foi assim: há uma história que deve ser contada, que remonta a tempos não tão distantes, onde os palcos eram campos proibidos para pretas e pretos. Hoje, os teatros estão abertos para nós, que temos a ancestralidade registrada na pele, mas em que medida estes locais são realmente ocupados?”, questiona Edna – que, além da carreira musical, também atua como professora e, de forma pioneira, como pesquisadora acerca das cantoras líricas negras no Brasil. Edineia complementa. “Por que ainda nos são recusados estes espaços de poder? É com base nestas reflexões que nasce nossa proposta, do ímpeto de duas mulheres pretas que há muito tempo tentam quebrar essas barreiras. Nós, profissionais do canto lírico que, por meio da criação de um espetáculo multilinguagens, queremos fazer ecoar um grito por reparação”, defende.
As irmãs relatam que a razão central para a criação do espetáculo veio do fato de que algumas das principais cantoras negras da tradição lírica brasileira não são conhecidas pelo público. “É desse desejo de trazer de volta esses nomes, celebrando a contribuição negra para a música de concerto, que idealizamos o projeto. Trata-se de um ‘som’ que não irá somente acalentar o espectador: provocará o mesmo calafrio que diversas vezes percorreu nossa espinha como sensação involuntária a todos os ‘nãos’ escutados, aos prêmios preteridos, aos papéis esquecidos e toda sorte de amarras que seguem nos privando coletivamente do devido reconhecimento”, ressalta Edineia. Edna aponta, porém, que a arte é capaz de restaurar, e o canto, de regenerar. “O concerto que trazemos visa também resgatar a história dessas cantoras pioneiras – muitas delas nascidas ainda quando o regime escravocrata era vigente no Brasil –, nosso matriarcado preto na música lírica brasileira, e de tantas outras que precisaram lutar para ocupar esses espaços. Espero que o público saia sensibilizado e inspirado a procurar saber mais sobre a importância histórica das artistas negras na música clássica de ontem, de hoje e do futuro, quando esperamos estar em maior número e ocupando os palcos de maneira mais consolidada”, afirma Edna.
*Sérgio Moreira é Jornalista da coluna Minas Turismo

