Cláudio Castro, governador do RJ mobiliza colegas para enfrentar o crime organizado - créditos: Gov-RJ
01-11-2025 às 10h16
Samuel Arruda*
A criação do chamado Consórcio da Paz, anunciada por governadores no Rio de Janeiro após uma megaoperação contra o crime organizado, escancara uma realidade incômoda: o vácuo de coordenação nacional na segurança pública. Enquanto os estados tentam articular, por conta própria, uma aliança interestadual para combater facções criminosas e o tráfico de armas, o governo federal parece assistir de longe, mais preocupado com a narrativa política do que com a urgência das ruas.
É inegável que a operação fluminense, que resultou na prisão de 81 criminosos e na apreensão de 93 fuzis, representa um feito expressivo das forças de segurança locais. O governador Cláudio Castro, ao lado de colegas como Romeu Zema, Minas, Caiado, Goiás, Tarcísio de Freitas, São Paulo e outros, aproveitou o momento para propor a união dos estados em torno do combate ao crime organizado. A ideia do consórcio — troca de inteligência, cessão de contingentes e apoio financeiro — soa promissora e necessária. No entanto, sua simples existência revela o que falta: liderança federal.
O governo Lula, que durante a campanha prometeu reconstruir a política nacional de segurança, ainda não apresentou uma estratégia consistente para enfrentar o avanço das facções que hoje operam em vários estados como verdadeiras empresas do crime. O Ministério da Justiça fala em “integração”, mas o discurso não se traduz em ações coordenadas, tampouco em apoio técnico ou orçamentário robusto.
Mais preocupante é o contraste político que o episódio expõe. De um lado, governadores — muitos deles de oposição — se unem em torno de uma pauta prática, pressionados pela escalada da violência. Do outro, o Planalto prefere o distanciamento, temendo talvez que uma aproximação pareça endosso a adversários. A segurança pública, porém, não deveria ser um campo de disputa partidária, mas de responsabilidade compartilhada.
O Consórcio da Paz pode ser um passo importante, desde que não se transforme em mero gesto simbólico. Sem a participação efetiva do governo federal — que detém os principais instrumentos de inteligência, controle de fronteiras e políticas prisionais —, a iniciativa corre o risco de ser apenas mais um arranjo regional, com resultados pontuais e pouca sustentabilidade.
Em tempos em que o crime organizado se estrutura nacional e internacionalmente, o Brasil precisa de uma resposta à altura. E essa resposta deve partir de Brasília. O silêncio do governo Lula diante da mobilização dos estados é mais do que uma omissão: é um sinal de que ainda não compreendemos que a paz, para ser duradoura, exige coordenação e coragem política.
*Samuel Arruda é jornalista e articulista

