
Apagão da nuvem da Amazon - créditos: Amazon
20-10-2025 às 11h12
Direto da Redação
Nesta segunda-feira (20), a Amazon Web Services (AWS), uma das principais plataformas de nuvem utilizadas por empresas ao redor do mundo, sofreu uma falha técnica de grandes proporções, afetando uma gama significativa de clientes. O incidente, que gerou instabilidade em diversos sistemas críticos, trouxe à tona uma série de questões jurídicas relacionadas à governança de dados e à responsabilidade das empresas de tecnologia.
A AWS é uma das líderes mundiais no fornecimento de infraestrutura de cloud computing, permitindo que empresas armazenem dados e executem aplicativos na nuvem sem a necessidade de manter servidores próprios. Contudo, a falha de seus serviços acendeu um alerta sobre os riscos associados à dependência de uma única plataforma para operações empresariais essenciais. Com bilhões de dólares em serviços contratados por grandes corporações, o impacto dessa interrupção levanta discussões sobre a segurança jurídica nas relações entre provedores de serviços de nuvem e seus clientes.
O apagão também coloca em xeque as obrigações de compliance das empresas que utilizam a infraestrutura da AWS. De acordo com Alexander Coelho, sócio do Godke Advogados e especialista em Direito Digital e Proteção de Dados, em casos como esse, as cláusulas contratuais relacionadas a SLA (Service Level Agreement) e à responsabilidade em casos de falhas são cruciais para determinar as consequências legais para os provedores. No entanto, a complexidade da prestação desses serviços e os termos genéricos de muitos contratos de tecnologia dificultam a resolução rápida e eficaz de disputas.
“Este incidente não é é apenas uma falha operacional, é um estresse de governança”, afirma o advogado. “Este incidente expõe um desafio regulatório e jurídico cada vez mais evidente. As cláusulas de SLA (Service Level Agreement), as previsões de responsabilidade civil e os planos de contingência deixam de ser ‘letra miúda’ e passam ao centro da estratégia. Onde o contrato é genérico, a disputa vira regra”, complementa.
Além disso, as empresas precisam revisar seus contratos de nuvem com um olhar jurídico rigoroso, garantindo previsões claras sobre responsabilidade, créditos/compensações, mudança de região, failover multi-região e disaster recovery. “Sem isso, um apagão digital se transforma rapidamente em um pesadelo jurídico”, alerta.
Por fim, o incidente de segurança não é só vazamento de dados. Indisponibilidade prolongada que afete direitos dos titulares ou comprometa serviços essenciais pode exigir avaliação de reporte à ANPD e comunicação a titulares, conforme o caso. O triângulo da segurança (confidencialidade, integridade e disponibilidade) é jurídico, não apenas técnico. “Quanto mais digital a economia, mais jurídico é cada minuto de indisponibilidade. A nuvem não é só tecnologia; é infraestrutura econômica e regulatória. Quem trata como ‘TI’ vai aprender do jeito difícil”, conclui Coelho.
Confira práticas aos gestores para evitar vazamento de dados em casos como o da AWS:
•Mapeie dependências críticas: regiões/zonas, serviços gerenciados e terceiros acoplados.
•Revise contratos: SLA, responsabilidade, créditos, exit, auditoria, DR/BCP.
•Teste resiliência: failover entre regiões, RTO/RPO, comunicação a clientes e stakeholders.
•Compliance & LGPD: documente impacto, preserve evidências, avalie obrigações de reporte.
•Governança: leve o tema ao comitê/board com plano e cronograma de mitigação.
Fonte:
Alexander Coelho – é sócio responsável pela área de Direito Digital e Proteção de Dados no Godke Advogados, DPO as a Service e professor. Especialista em governança de IA, Cibersegurança e Regulação de Plataforma. Pós-graduaddo em Digital Services pela Faculdade de Direito de Lisboa (Portugal) e membro da Comissão de Privacidade e Proteção de Dados e Inteligência Artificial da OAB/SP.
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