
África vai se dividir em duas - créditos: divulgação
18- 10-2025 às 09h24
Direto da Redação
É uma fenda que se abre lentamente sob a crosta terrestre do continente africano, um processo geológico milenar está em curso: o chamado East African Rift System (Sistema do Rift da África Oriental). Trata-se de uma grande zona de ruptura tectônica que atravessa países como Etiópia, Quênia, Tanzânia e regiões vizinhas, onde placas tectônicas – a placa Somaliana, a placa Nubiana e a placa Arábica – se afastam gradualmente.
Recentemente, cientistas descobriram que debaixo da região de Afar, na Etiópia, há uma pluma do manto terrestre que pulsa – isto é, sobe e desce em ondas de material parcialmente derretido. Essas pulsações (“geological heartbeat”) estariam enfraquecendo a base da crosta terrestre, esticando-a e preparando o terreno para que a fenda se aprofunde e alargue.
A longo prazo em milhões de anos, essa fenda pode se tornar tão profunda e larga que o oceano venha a invadi-la, formando um novo “braço” oceânico dentro do continente. Cientistas acreditam que esse processo poderia levar de 5 a 10 milhões de anos, ou até mais dependendo da taxa de afastamento das placas e da dinâmica do manto. Esse novo oceano provavelmente conectaria áreas que hoje são costas com regiões atualmente terrestres, transformando geograficamente países que hoje são interioranos em nações costeiras. Haveria profunda reconfiguração de relevos, cursos de rios, ecossistemas, climas regionais e até padrões de sedimentação.
Em uma escala de tempo é importante destacar que dentro dos limites, das dúvidas e alertas um “novo oceano” não significa algo que veremos em vida humana comum. Milhões de anos são o horizonte mais provável.
Imprecisões em reportagens populares e muitas manchetes exageram ou simplificam demais, afirmando que “um oceano já está surgindo” ou que a divisão será rápida. Isso ainda não é verdade. O processo está em curso, mas bem lento.
Dentro da complexidade geológica e o fato de haver rifting (esticamento da crosta) não garante automaticamente que a ruptura será completa. A crosta terrestre precisa se tornar suficientemente fina, afundar ou colapsar em algumas regiões, para permitir que água marinha penetre. E há muitas variáveis: taxas de afastamento, atividade vulcânica, subsidência, existência de barreiras topográficas, etc.
Considerando os impactos para o futuro do continente (e do planeta) se esse oceano vier a existir; mudanças territoriais, países sem litoral poderiam ganhar acesso ao mar. Isso teria impacto enorme no comércio, nas infraestruturas portuárias, nas fronteiras políticas.
Em relação ao clima e ecossistemas, parte do relevo pode afundar, surgirão novas bacias de água, mudanças no regime de chuvas e nas temperaturas locais.
E sobre a atividade sísmica e vulcânica o rifting já está associado a terremotos e erupções. Isso vai continuar, com riscos para populações próximas às zonas tectônicas.
O que está acontecendo no leste da África é um espetáculo lento, silencioso e potente da geologia da Terra. A fenda no continente, especialmente na região de Afar, evidencia que continentes não são estáticos — eles se movem, se partem, se reformam. Embora seja improvável sermos testemunhas do oceano formado, o estudo desse processo traz entendimentos valiosos não apenas para a África, mas para a ciência planetária como um todo: sobre como se formam oceanos, como funcionam as placas tectônicas, e como o interior da Terra influencia sua superfície.
Fonte: ScienceDaily+2ZME Science+2