
Zelensky (ucrânia) e seus drones na guerra contra a Rússia - divulgação
28-09-2025 às 11h00
Luís Carlos Silva Eiras (*)
No púlpito da ONU, Volodymyr Zelensky apresentou-se não apenas como chefe de Estado, mas como porta-voz de uma nova era tecnológica da guerra. Ele descreveu como a combinação de drones e inteligência artificial democratizou o poder militar, tornando-o acessível a países pobres, grupos terroristas e até cartéis.
“Se antes apenas grandes potências detinham tal capacidade, hoje qualquer ator pode lançar drones que cruzam continentes”, alertou. O risco já não é apenas humano: são máquinas contra máquinas, drones autônomos capazes de caçar, atacar e destruir sozinhos.
A prova social: a Ucrânia como laboratório em tempo real
Se uma boa publicidade precisa mostrar evidências, Zelensky trouxe exemplos da guerra em casa como “testes de produto”:
“Zonas Mortas”: drones baratos que criam áreas inteiras onde nada sobrevive — um efeito antes reservado a armas nucleares.
Guerra Naval Assimétrica: sem marinha poderosa, Kiev usou drones marítimos para afastar a frota russa do Mar Negro.
Operação “Teia de Aranha”: drones de baixo custo neutralizaram bombardeiros estratégicos caríssimos, virando estudo de caso para forças especiais no mundo todo.
Cada exemplo é marketing puro: não um conceito abstrato, mas um “produto” comprovado em uso real, contra um dos maiores exércitos do planeta.
O apelo emocional: a corrida armamentista da IA
Zelensky embalou sua narrativa com urgência: drones dotados de inteligência artificial podem travar combates sozinhos, atacar infraestruturas críticas e até portar ogivas nucleares.
“As instituições internacionais são fracas demais para responder”, disse. “Ninguém está seguro, em nenhum lugar do mundo”, reforçou.
A mensagem é simples e publicitária: o risco é global, a insegurança é compartilhada, e a urgência de agir é imediata.
A solução
Aqui, Zelensky revela o “produto” que anuncia. Depois de apresentar o problema e comprovar sua experiência, ele introduz a solução: a Ucrânia não apenas resistiu, mas desenvolveu armas modernas, inovadoras e testadas em combate. E agora está pronta para exportá-las.
A oferta vem em três camadas:
Sistemas de armas comprovados: soluções reais, já aplicadas contra um inimigo poderoso.
Produção conjunta: abertura para parcerias internacionais, com transferência de tecnologia.
Know-how imediato: nada de começar do zero — a Ucrânia entrega experiência prática pronta para uso.
O comercial final: segurança como produto global
Se um bom anúncio fecha com uma chamada irresistível, Zelensky o fez ao posicionar a Ucrânia não como vítima, mas como marca líder em defesa do futuro.
Ele não vendeu apenas drones ou sistemas de ataque. Vendeu a ideia de que a Ucrânia é hoje o laboratório mundial de guerra moderna, oferecendo ao planeta aquilo que nenhum tratado, nem mesmo a ONU, conseguiu entregar: eficácia.
Na ONU, em 24 de setembro de 2025, Zelensky não discursou. Ele lançou uma campanha publicitária global — e seu produto é a própria sobrevivência.
Referências:
Se fosse escrito em 2020, o discurso de Zelensky poderia fazer parte do livro A new history of the future in 100 objects, a fiction, Adrian Hon, The MIT Press.
(*) Luís Carlos Silva Eiras é jornalista