
Palácio da Liberdade - créditos: Fundação Clóvis Salgado
28-09-2025 às 09h39
Direto da Redação
O Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte, tombado pelo patrimônio histórico de Minas Gerais em 27 de janeiro de 1975, através do decreto nº 16.956, coração simbólico e histórico da política mineira, palco de eventos memoráveis e decisões que marcaram o destino de Minas Gerais e do Brasil, caminha para um destino, no mínimo, controverso. Após 128 anos de sua construção, que foi sede do governo e casa de líderes ilustres como Juscelino Kubistchek, Tancredo Neves, dentre outros, poderá ser transformado em espaço para eventos privados, aberto a aluguéis e até mesmo locações para filmes.
Sem qualquer justificativa convincente até o momento — além dos rumores que ecoam nos bastidores — a decisão parte do governador Romeu Zema, cuja origem empresarial parece sobrepor-se ao entendimento do papel político e simbólico que o Palácio representa. Para muitos, ele age mais como gestor privado do que como estadista. No entanto, o Palácio da Liberdade não é apenas um prédio: é um monumento vivo da história mineira, cuja vocação natural seria abrigar o Museu da Memória Política de Minas Gerais — um espaço de reflexão, educação e identidade.

Um museu dessa envergadura teria imenso valor cultural e pedagógico. Seria ponto de visita obrigatório para estudantes mineiros, brasileiros e estrangeiros, além de todos os que se interessam pela rica trajetória de um dos estados mais relevantes do Brasil.
A decepção e indignação cresce. Já há vozes que defendem uma intervenção do Tribunal de Contas de Minas Gerais, apontando o risco de se cometer um verdadeiro equívoco com o mais caro símbolo das tradições políticas mineiras. Para essas, e tantas outras vozes, não se trata apenas de patrimônio material, mas de memória coletiva e respeito à história.
Diversas instituições são citadas como possíveis defensoras dessa causa: o Ministério Público, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, a própria Assembleia Legislativa e, claro, o Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais. Todos, juntos ou separados, deveriam colocar fim esse projeto de esvaziamento simbólico. Afinal, se a história política mineira não for respeitada, corremos o risco de sermos condenados à irrelevância de um Estado de tão rica histórica.
A lembrança é inevitável: quem ouviu, da sacada do Palácio, o então governador Tancredo Neves declarar com firmeza — “Mineiros, o primeiro compromisso de Minas é com a liberdade” — não pode se conformar com a banalização daquele espaço. O salão que já recebeu líderes, decisões de Estado e vozes que ainda perpetuam por décadas, agora poderá ser ocupado por casais brindando em festas particulares ou sets de filmagens comerciais?
Não se trata de ser contra eventos culturais ou produções cinematográficas. Mas isso pode – e deve – acontecer local apropriado, sob pena de ofuscar um dos maiores legados do povo mineiro. Cada espaço do Palácio da Liberdade conta uma história diferente.
Nesta sexta-feira (26 de setembro), o Diário de Minas buscou informações junto a pessoas do governo estadual sobre uma possível revogação do decreto que alterou as regras de uso do Palácio e foi informado, no entanto, que a revogação será apenas formal, com ajustes pontuais — mantendo-se, portanto, o objetivo original do projeto. Isso, apesar da mobilização de diversos ex-governadores, que já se uniram para criticar duramente a medida.
“Ó Minas Gerais! Quem te conhece não esquece jamais! O Palácio da Liberdade merece mais.
Porque a história, quando esquecida ou desrespeitada, cobra caro — e cobra no futuro o preço da omissão do presente.