
Créditos: Divulgação
08-09-2025 às 08h58
Alberto Sena*
Depois de ler um texto sobre fala atribuída ao secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger (1973-1977), que dentre outras coisas expressa o temor do governo norte-americano de ter de enfrentar um Brasil desenvolvido tecnologicamente, a gente entende o comportamento do Sr. Trump, atual Presidente estadunidense.
No texto, que grassa pela internet, Kissinger toma como termo de comparação o que se deu com o Japão, depois da Segunda Guerra Mundial. O país reconstruído se transformou tecnologicamente em uma potência na década de 1980, e por pouco não superou a capacidade econômica dos EUA.
“Não permitiremos um novo Japão abaixo da linha do Equador”, advertiu ele em uma clara referência ao Brasil, que os EUA consideravam seu quintal, até surgir um Presidente da República como Luiz Inácio Lula da Silva que mostrou a Trump, no atual caso, que o Brasil é soberano e como enfatizou o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, possui leis e uma Constituição Federal.
A esta altura do campeonato, a fala de Kissinger não passa mais do que uma ameaça vazia, porque os tempos são outros e o Brasil evoluiu assim como a China também, enquanto os EUA se limitaram a explorar e fazer guerras com outros países, como o Presidente atual tenta fazer, cutucando um e outro país, enquanto o império herdado se faz em ruínas.
Todo esse temor norte-americano em relação ao desenvolvimento tecnológico do Brasil remete cada vez mais a certeza do professor Darcy Ribeiro, que preconizou o surgimento, aqui, do que ele chamou de a “Nova Roma”, conceito baseado na formação mestiça e tropical brasileira, desenvolvido em sua obra “O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil”.
Segundo Darcy, uma nova civilização estaria em formação e as evidências confirmam, no Brasil, nascida da efervescência de culturas, línguas e etnias, uma civilização tardia.
No livro “O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil”, que ele precisou “fugir do hospital” para concluí-lo, o professor fala de uma “Roma Tropical” como um projeto utópico de um povo novo, mais humano, alegre e generoso, que poderia levar o mundo a uma nova civilização, baseada na sua rica diversidade.
O “novo Japão” presumido pelo Kissinger, na realidade está emergindo na linha do Equador como ele, com olhos de águia norte-americana, viu. Não se pode evitar o inevitável. Os tempos mudam e os mundos se desenvolvem. A “Nova Roma” de Darcy começa a surgir, aqui, neste Brasil varonil.
Até mesmo como título de um jornal lançado por alunos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) do curso de “Ciências do Estado”. O conceito de “Nova Roma”, que teve grande reverberação na instituição, além de dar nome ao jornal, foi estudado através da leitura do livro “O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil” de Darcy Ribeiro durante vários semestres no Grupo de Estudos Raul Soares de Moura, da Faculdade de Direito da UFMG.
*Alberto Sena é Jornalista