
União Europeia pode fechar acordo com Mercosul - créditos: divulgação
04-09-2025 às 14h00
Direto da Redação
A Comissão Europeia apresentou nesta quarta-feira (3) o acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul para aprovação formal, buscando atenuar a resistência de países como a França com a inclusão de salvaguardas que podem limitar a importação de produtos agrícolas.
Firmado em dezembro passado, após cerca de 25 anos de negociações, o acordo entre a UE e o bloco sul-americano — formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai — é considerado o maior já celebrado pela União Europeia em termos de redução tarifária.
Para entrar em vigor, o pacto ainda precisa ser aprovado pelo Parlamento Europeu e obter uma maioria qualificada entre os governos dos Estados-membros — ou seja, apoio de pelo menos 15 dos 27 países, representando 65% da população da UE.
Resposta às críticas e defesa da produção europeia
Países com forte setor agrícola, como França e Polônia, têm se mostrado contrários ao acordo. O governo francês chegou a classificá-lo como “inaceitável”, enquanto a Polônia manifestou repetidamente sua oposição, formando uma aliança que poderia comprometer a aprovação.
Em resposta, a Comissão Europeia propôs um mecanismo de salvaguarda que permitiria suspender o acesso preferencial de produtos do Mercosul, como a carne bovina, caso as importações aumentem mais de 10% ou os preços sofram quedas equivalentes em um ou mais países da UE. Nesse cenário, a Comissão poderá agir em até três semanas após o recebimento de uma reclamação formal.
Além disso, está previsto um fundo de crise no valor de 6,3 bilhões de euros (cerca de US$ 7,38 bilhões) para apoiar os agricultores europeus em caso de impactos negativos.
O ministro do Comércio da França, Laurent Saint-Martin, considerou a cláusula de salvaguarda “um passo na direção certa”. Já o primeiro-ministro da Polônia, Donald Tusk, afirmou que seu país ainda é contra o acordo, mas reconheceu que perdeu o apoio necessário para bloqueá-lo, reforçando a importância da nova medida de proteção.
Geopolítica e diversificação comercial
Segundo a Comissão, o acordo com o Mercosul é estratégico para compensar perdas comerciais causadas pelas tarifas impostas pelos Estados Unidos sob o governo de Donald Trump e para reduzir a dependência da China, especialmente no fornecimento de minerais críticos para a transição energética da UE.
Desde a eleição de Trump, a UE tem acelerado esforços para diversificar suas parcerias comerciais, intensificando negociações com Índia, Indonésia e Emirados Árabes Unidos, além de estreitar laços com parceiros como Reino Unido, Canadá e Japão. Nesta quarta-feira, também foi apresentado um acordo atualizado com o México, fechado em janeiro.
Reações diversas: críticas e apoio
Apesar dos avanços, o acordo com o Mercosul enfrenta resistência. Agricultores europeus alertam para o risco de importações baratas, especialmente de carne bovina, que não atenderiam aos rigorosos padrões ambientais e sanitários da UE — uma alegação refutada pela Comissão.
Grupos ambientalistas também criticam o tratado. A ONG Amigos da Terra o classificou como um “acordo destruidor do clima”. A expectativa desses opositores é barrar sua aprovação no Parlamento, onde enfrentam oposição tanto de eurodeputados verdes quanto da extrema-direita. No entanto, até o momento, não há um grupo suficiente de países dispostos a bloquear a ratificação.
Por outro lado, defensores do acordo apontam ganhos significativos para setores estratégicos. O Mercosul é visto como um mercado promissor para automóveis, máquinas e produtos químicos europeus, além de fonte segura de minerais essenciais como o lítio — atualmente fornecido majoritariamente pela China.
O acordo também traria benefícios para o setor agrícola europeu, ampliando o acesso e reduzindo tarifas sobre produtos como queijos, presuntos e vinhos.
Repercussão no Brasil
Autoridades brasileiras comemoraram o avanço. “Hoje tivemos uma boa notícia… Um passo concreto para o Brasil e a nossa região terem acesso a um grande mercado”, afirmou o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, em vídeo publicado na plataforma X (antigo Twitter).
“Esse é um sinal claro para o mundo. Existe espaço sim para integração, comércio, investimento e oportunidades compartilhadas que geram emprego e renda. Juntas, nossas economias serão mais fortes”, completou.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também reiterou, em publicação separada, o desejo de concluir o acordo até o fim deste ano, durante a presidência rotativa do Brasil no Mercosul.