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05-09-2025 às 08h34
Daniela Rodrigues Machado Vilela*
O ordinário na vida se faz repleto de trivialidades e futilidades, daí a necessidade de realizar primeiro o prioritário, ordenando as tarefas. Ter entendimento das circunstâncias para mais aperfeiçoadamente gerir a rotina é necessário. A mente deve ser treinada para que se ocupe das coisas virtuosas.
A condição da vida humana se perfaz num exíguo espaço temporal entre o nascimento e a morte, envolto numa teia de acontecimentos inesperados e a obra de uma vida nunca está totalmente acabada ou se revela por completo. O humano se imiscui no incompleto, passageiro, fugaz e efêmero.
O equilíbrio da vida requer que sejam apreciados os estímulos do corpo com moderação, de modo a não causar prejuízos a si mesmo, ninguém deve beber demais, comer ou mesmo amar de maneira enlouquecedora, pois devaneios costumam custar a vida daqueles que tudo se permitem. A diferença entre o remédio e o veneno é a dosagem. Conservar uma saúde em boas condições requer que o indivíduo faça escolhas assertivas e, por vezes, renúncias. Nada é fácil.
A vida é imperfeita. O pensamento ordena as prioridades, concebe os desejos e ajusta as ações. Conformar-se que não há controle sobre muitas coisas é entendimento de sabedoria. Vida é rio que contorna obstáculos.
Conhecer-se e perceber o entorno, a frequência de energia do outro é vital. É preciso saber onde faz bem se estar e a quem evitar.
Tencione realizar o que almeja, vá à raiz, à essência das coisas, inquira mais profundamente as razões, evite compreensões meramente retóricas, superficiais, vazias. Conheça as forças que atuam em si, as próprias preferências e antipatias. Enfim, ouça-se, perceba acuradamente os sinais emitidos pelas pessoas e circunstâncias, estes estão por todas as partes. Ouça o tal “sexto sentido”, sempre há algo a ser captado no ar.
Enumerar prioridades, aperfeiçoar-se e avaliar ganhos e perdas nos processos de escolha, bem administrar o uso do tempo, perceber as entrelinhas do que não é dito e do que paira no ar são indicativos de sabedoria aplicada. Nem tudo está sobre a mesa, há muitos detalhes cruciais sob a mesa. Há penumbra, “zonas gris” nem tudo está às claras, o que não é dito costuma ser mais esclarecedor, revelador, atordoador, mas necessário.
Todos estão à procura dos próprios desejos e sonhos, uma vez supridos os anseios, desloca-se o sujeito em busca de outras prioridades. Entendimento do que se busca e moderação na satisfação dos desejos são instrumentais valiosos.
Para se alcançar propósitos, é vital método, caminho de atuação, técnica e realização de escolhas.
A concretização de projetos, pressupõe o uso eficaz da mente, raciocínio e ação, atuar e realizar. Sair da inércia para a instrumentalização da realidade. Após planejar, empenhar-se em executar, porém, as possibilidades de concretude de sonhos costumam se estreitar, assim, é preciso, por vezes, diminuir as expectativas. A ordem natural da vida é: “cada dia a mais é também um dia a menos”. Saber usar o tempo, é vital. Tudo se esvai.
Paz e serenidade de atuação, perceber o fluir dos dias com abertura, boa vontade e valorizar o corriqueiro são atitudes desejáveis de quem persegue modos de bem-viver.
Viver é para todo indivíduo um arredondar das bolas quadradas e um aparar das arestas. Quanto mais facilidade o sujeito tem de vestir máscaras e se adaptar aos diferentes papéis que lhe são requisitados, mais êxito terá ao atuar corriqueiramente.
A hipocrisia deve ser evitada o quanto possível, mas adaptação é essencial. O universo não lida com moral, mas com causas e efeitos. Moral é criação humana para gerir o convívio social e afastar a guerra desenfreada. A ideia basilar é: maximizar interesses individuais sem causar dor aos outros. Vida tem muito de caótico, não dá para bancar o bicho grilo, o preço a se pagar é alto para aqueles que não conseguem atuar se adaptando às circunstâncias. É preciso lidar com as intempéries e seguir adiante. Caiu hoje: chore, lamente e amanhã levante a cabeça, pois tudo se renova. Havendo vida, se proponha a lutar.
É preciso encontrar locais e momentos de proteção. Viver se faz em alta rotação. Infelizmente, às vezes, se vive fases que são verdadeiros infernos na própria terra. Ninguém está imune à dor, a questão é como lidar com o que pode ser mudado e com o imponderável com maior aceitação.
Todo ser humano carrega em si passado e futuro. É essencial abandonar peso morto e tocar adiante, ter desprendimento, principalmente, com as coisas ruins, deixar que se despeçam.
Transforme-se, escolha e pague o preço e, assim, vá encontrando um lugar de equilíbrio possível, entendendo que a vida é soma, legado do que se constrói, do que lhe acontece. Como diz a canção do Engenheiros do Hawaii: “Somos quem podemos ser. Sonhos que podemos ter”.
Perceber o que é desamor é fácil, já o amor não é tão clarividente, é complexo. Tudo que é plenamente definível e decifrável despiu-se de encanto. Graças a Deus há mistério e capacidade imaginativa. A vida é entrecortada por um jogo dialético de contradições com possibilidades e impossibilidades das mais variadas, já que a realidade tem camadas que a idealização não alcança. Tudo enfim, transmuta-se o tempo todo.
Crescer implica mudança e não há opção, pois tudo que vibra, um dia não mais vibrará. A razão prática norteia a vida, mas é a razão poética que permite o encontro do próprio eu, o máximo da inteligência aplicada é se conhecer em profundidade, já que o incognoscível do “eu” impera.
Por fim, um brinde à complexidade, diversidade e oportunidade de estar vivo. O que é a chama da vida? Não se sabe, porém a morte em vida é a presença de um corpo sem chama. Seja chama de vivacidade e alegria por onde passar e não apenas viva como um “homo consumidor” com idealizações burguesas. Que as coisas lhe sirvam, mas cultive propósitos mais sublimes, viva para além do concreto, com uma perspectiva metafisica, se revele e desvele, seja capaz de esculpir a melhor versão de si diariamente. A maior abstração humana é o dinheiro, não conspire contra si próprio vivendo uma vida só atrelada a interesses materiais, viva para além dos estímulos do corpo também. Permita florescer o melhor do humano em si.
*Doutora, Mestra e Especialista pela UFMG. Atualmente, realiza Estudos Pós-Doutorais pelo PPGD-UFMG, com financiamento público da FAPEMIG. Professora convidada no PPGD-UFMG. Pesquisadora com ênfase nos estudos sobre o Direito do Trabalho, Filosofia e Linguagem. Escorpiana nata, diletante na arte da vida e da pintura.