
Lições para jovens escritores - créditos: divulgação
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13-04-2025 às 09h49
Fabrizio Corbera de Almeida (*)
1. Um escritor não pode ser um homem fora da vida, isolado em sua mesa, sem nenhum contato com as lutas dos homens, apático ou indiferente. Se não tem perspectivas para a participação autêntica e sem preconceitos, que pelo menos faça algo para a sobrevivência de todos.
2. Um escritor não pode engolir o mundo como ele está, mesmo que o enfeitem como bolo de aniversário.
3. Resta muitas vezes ao escritor a carranca de um mundo feio. As belezas devem ser gritadas, mesmo que depois de usadas e dissecadas o façam vomitar.
4. Um escritor não pode limitar o seu espaço a uma rua, a uma casa, a uma cidade, a um bairro, a um povo, a uma nação.
5. O escritor é o único cidadão do mundo com condições de se entender ao longo de todas as criações e de todas as gerações. Tem o universal sempre presente mesmo na análise do particular.
6. Um escritor deve conservar o fôlego para as perseguições que serão constantes, para os embates que serão inesperados, para os rompimentos que serão frequentes.
7. A cabeça de um escritor não se arruma diante do espelho.
8. A língua utilizada pelo escritor deve ser a língua falada e entendida por todos, o ritmo deve ser o ritmo do sangue, cabendo ao escritor amar e odiar, ser amado e odiado, ser vilipendiado e ser vilipendiador, rir, e ser objeto de riso. O escritor deve ser homem no meio de todos os homens, deve ser capaz de errar e não se esconder para ocultar suas fragilidades. Todos os homens são grandes e fortes, pequenos e frágeis.
9. O escritor deve estar comprometido com as mudanças estruturais da sociedade e ser capaz de sempre que for necessário deitar a pena e erguer uma bandeira.
10. Quem faz o escritor não é a língua, quem faz o escritor é a contração muscular, quem faz o escritor não é a imaginação, quem faz o escritor não é a ciência, não é a técnica, não é a honestidade ou a moral, quem faz o escritor é o leitor, quem faz o escritor são os personagens. Esperamos que os personagens tenham a mesma existência física que têm na presença de quem se interessar por conhecê-los.
Advertências
1. Não use todas as palavras. No final, poderá faltar uma só.
2. Os analfabetos nos ensinam a escrever enquanto os censores só querem aprender.
(*) Fabrizio Corbera de Almeida é professor da Universidade de Barcelona, texto traduzido pelo professor doutor José Luís Cardoso