Português (Brasil)

“Um campeão na concepção exata da palavra”

“Um campeão na concepção exata da palavra”

Aos 84 anos, bonito, altivo e esbelto, diga-se, Diógenes Câmara é de fato um troféu que devemos guardar com respeito na nossa galeria da memória.

Compartilhe este conteúdo:

02-03-2024 às 09h:29

Eduardo Brasil*

Nossos antepassados já diziam que o povo tem memória curta. Num segundo, esquece tudo. Hoje, com a agressão das redes sociais a enfiar-nos goela abaixo todo tipo de informação, boa parte lamentáveis asneiras, esse esquecimento ganha força - a ponto de deixar boquiabertos bisavós nossos – e os feitos de alguns montes-clarenses, por exemplo, que realmente merecem ser lembrados são colocados à margem da história por banalidades passageiras. E isso já foi dito aqui. Voltemos ao assunto, se permitem, pois temos uma outra vítima desse “lapso”: o amigo Diógenes Câmara.

Talvez grande parte dos que me leem, sobretudo de geração recente, lembre dele como um ator de teatro e cinema produzidos em Montes Claros. Como um homem de 84 anos amante das artes cênicas. De fato. Mas, antes do palco e das câmeras, sua paixão era a natação. O atletismo. Era o esporte. Daí que entremos na sua história que certamente enriquece a nossa.

Aos 8 anos de idade, Diógenes Câmara aprendeu a nadar com “seu” Marino na Praça de Esportes, que viu nele um atleta promissor. E estava certo. Aos 9 anos, o garoto candidato a pródigo deu um grande salto: competiu no Campeonato Mineiro de Natação, nas piscinas do Minas Tênis Clube, em Belo Horizonte. Literalmente um naufrágio e um banho de água fria nas suas pretensões. Amargou a última colocação. Mas, isso não o desanimou. Pelo contrário. Fez com que voltasse com mais dedicação aos treinos e já no ano seguinte terminou a competição em terceiro lugar. Aos 11 anos, saltou e nadou mais alto, sagrando-se Campeão Mineiro de Natação.

Aos 12 anos tornou-se o primeiro montes-clarense a conquistar o bicampeonato no estilo nado livre. Em seguida, com destaque no Estado, foi convocado para representar Minas Gerais no Campeonato Brasileiro de Natação, no Rio Grande do Sul. Viajou para Porto Alegre e lá, durante 10 dias passou horas seguidas treinando, o que lhe garantiu o título de Campeão Brasileiro de Nado Livre, façanha que somente outro nadador montes-clarense, Jovácio Maurício, havia conseguido, no Rio de Janeiro.

Aos 16 anos, era titular da equipe juvenil de natação do Minas Tênis Clube, quando colocou no peito mais uma faixa de campeão, a de vice do Campeonato Brasileiro de Natação. Já adulto, foi campeão no Campeonato Mineiro de Natação revezamento 4x100, em Divinópolis, sob comando de Sabú. A equipe também se sagraria, em seguida, vice-campeã mineira no certame disputado em BH.

Mas, Diógenes sempre foi um atleta versátil e suas experiências não se restringiam às piscinas. Ele também atuou com sucesso nas quadras e gramados. Com a idade de 18 anos, quando era atirador do TG-87, foi chamado para integrar a equipe de basquete comandada pelo saudoso “Zim Bolão” para disputar o Campeonato Mineiro de Basquete, em Juiz de Fora. Ficaram em terceiro lugar.

Aos 23 anos, ao ingressar nos quadros do Banco do Brasil, ao lado de craques como Helton Veloso, José Dias, Valber Braga, "Lourinho" Alcântara, Eustáquio Silveira e Willian, tratou de criar a famigerada equipe de futebol de salão (atividade que hoje tem a denominação de futsal), um time quase imbatível nos concorridos torneios promovidos pelas instituições bancárias da cidade e que lotavam o Ginásio da Praça de Esportes. Na época, inclusive, numa pesquisa feita em todo o Estado, ele e Willian apareceriam como dois dos melhores jogadores de futebol de salão de Minas Gerais.

Nos gramados, Diógenes Câmara foi titular no time juvenil do Ateneu, tendo jogado no Rio de Janeiro, em um Maracanã lotado, contra o Flamengo, fazendo a preliminar do jogo entre a seleção do Brasil e da Iugoslávia. No Cassimiro de Abreu foi titular da equipe principal ao lado de ícones do nosso saudoso futebol, como Bené e Mói de Ferro.

Bem, aqui encerro essas linhas que já se alongaram um pouco - e não seria diferente em se tratando de Diógenes Câmara – com a sensação de que rebuscamos um pouco da história de um conterrâneo que muito fez e faz por Montes Claros, além do que sabemos. Aos 84 anos, bonito, altivo e esbelto, diga-se, Diógenes Câmara é de fato um troféu que devemos guardar com respeito na nossa galeria da memória. É um campeão na acepção exata da palavra, substantivo masculino que sempre acompanhou nosso campeão...

*Eduardo Brasil é radialista, jornalista e cineasta, produtor do filme “U hôme qui casô cua mula”, todo rodado em Montes Claros e região

Compartilhe este conteúdo:

  1 Comentário

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Envie seu comentário preenchendo os campos abaixo

Nome
E-mail
Localização
Comentário

Grande Alberto Sena não sei como agradecer pela reportagem, sei que postou o que o meu parceiro lhe enviou, más você não imagina o quão estou orgulhoso de ver uma parte da minha vida, nas paginas de um jornal de enorme vinculação em todo o estado. Obrigado e como dizia o poeta, a vida é uma oportunidade, aproveite-a, a vida é um sonho, realize-o e você realizou com essa reportagem. Mais uma vez obrigado.

 

Synergyco

 

RBN