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“Procurei o melhor médico que poderia encontrar lá no BH. Bom e renomado. Deu tudo errado.”

“Procurei o melhor médico que poderia encontrar lá no BH. Bom e renomado. Deu tudo errado.”

Cartas a Lula – 36: Operei uma vez e quinze dias depois outra vez, também não deu certo. Apesar de toda habilidade do doutor, não quis voltar à outra cirurgia. Aprendo a conviver com as dores.

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30-07-2023 – 08h:42

José Altino Machado *             

Com dores no poder!!!

Oi, Lula, como vão as coisas? Assisti na terça-feira passada entrevista sua, como sempre na grande rede, e fiquei admirado em verificar que você está igual a mim.

Imaginava que o seu problema estaria nessa sequência de voos que você tem feito, mas pelo que parece não é bem assim, esta é descadeirado mesmo, como eu também...

Tinha certeza de que estaria pouco pior que você, mas vejo que não. No entanto, minha saúde era formidável há coisa de dois anos. Aí, pelo peso dos anos, fui mexer na coluna, logo no chassis do corpo.

Procurei o melhor médico que poderia encontrar lá no BH. Bom e renomado, fiquei até muito amigo dele. Deu tudo errado. Operei uma vez e quinze dias depois outra vez, também não dando certo.

Apesar de toda simpatia e habilidade do doutor, não quis voltar mais àquela mesa de cirurgia e espero não mais lá me deitar. Estou sim, aprendendo a conviver com as dores como tenho aprendido a conviver com várias amarguras deste seu governo.

Hoje, de repente, acabo por descobrir que também aquelas bolinhas parecendo bola de sinuca no fêmur da gente também dão defeito. 

Nessas coisas nos igualamos, e logo no sofrimento da dor. Confesso, com a vida em dores que estamos, estou até imaginando o motivo do sentido raivoso que você tem a todo momento.

Dói demais e você conviver com sofrimento doloroso é coisa terrível, chega mesmo a prejudicar a performance, por seguir conosco para a cama.

Realmente, além disso, como diz o sádico sarcástico, na idade que temos, os dois, teremos sempre que vencer a preguiça para fazer amor. Mais ainda, estudar a engenharia da posição a atender reclamações da coluna e quadril. Dá para desanimar...

Todo dia, toda hora, em todo momento, o estado nervoso vai a extremos ensejando ansiedades e a sensação sentida de queda é terrível. Acrescendo ainda, que nesses chiliques que damos, se tivéssemos armas, daria mesmo vontade dar uns “papoucos” naqueles que nos contrariam demais.

Porém, quanto a isso Lula, em mim sem problema. Quando muito nervoso agitadão e raivoso, me recolho em casa ao lado de pessoas que me amam e que podem compreender o meu estado.

No seu caso, não dá para fazer isso. É o presidente da República e sei perfeitamente que não passa por sua cabeça deixar o paulista sentar-se aí por enquanto.

E por falar em “papoucos”, gíria de tiros, discordo inteiramente de você no tocante a armas como tem proposto e tentado fazer, acho que não deveria ser assim o desarmamento, inclusive por sua legalização em referendo popular, sendo necessário outro a revogá-lo, pois está acima de decretos presidenciais ou arranjos de leis. Poderia talvez, ser mais seletivo, através de leis regulamentares, podendo-se aumentar o rigor com exigências se chegando até a necessidade de atestados psicológicos para aquisição de armas, nunca cassando direitos de forma geral como você tem feito. Em se sabendo da impossibilidade de defesa própria e ou patrimonial, só vem a benefício do malfeitor. Grandes e históricos exemplos avalizam o que digo. Todo mundo sabe disso e só uma ditadura não pode reconhecer. 

Tudo bem, Lula, apenas acho bom repensar um pouquinho porque a coisa não pode ser assim, com base de tanta repressão e abertura de tantos confrontos. Aliás, em tudo que se tem feito, é sempre regado a doses de exagero, principalmente na Amazônia, onde têm passado o rôdo e semeado ódios.

 Não se modifica culturas, tradições, vocações, vontades e comportamento de longos anos na marra. Fui simples “operário” na elaboração da Constituição federal, mas trabalhei bem, e engraçado Lula, que nosso maior apoio, foi da esquerda nacional. Nós da garimpagem, sem filosofias políticas ou partidarismos, enfrentávamos uma direita rica e braba em disputa a direitos legais, sendo irônico que hoje a direita ambiciosa, com seus bancos, deles herdeiras e capitalistas estrangeiros, banquem ditos esquerdistas contra a humildade cultural e ocupacional da Amazonia. Com descaramentos, canhotos de hoje fazem de conta não saber.

Na Amazônia, nas décadas de 80/90 a grande luta era contra conglomerados de mineração nacionais e estrangeiras que queriam a qualquer custo as áreas que ocupávamos e possuíamos de forma reconhecida, com documentos validos.

Jazidas por nós descobertas, tornavam se alvos, para através de benesses políticas de governo, tomá-las a si. Cabia a eles, o uso de capital, influências, imprensa e prestígios, a nós, o direito, de difícil reconhecimento, mas direito, e razão. E tudo isso foi transportado ao cenário constituinte. A fragilidade dos capítulos que nos protegem, categoria profissional única citada na Carta Magna, além dos óbvios advogados, não foi bem culpa nossa, mas sim a negociação possível. 

Insistimos muito que deveria constar na Constituição o direito a registro de descoberta do achado mineral, existente no mundo inteiro, inclusive em países totalitários. Achou, dono de um mínimo, mas dono. Aqui não, fica-se como em tempos de Reis e da Coroa portuguesa, para que alguém estabeleça a propriedade.

Sabíamos que sem tal direito e dependentes de vontades e interesses políticos, iríamos continuar com dificuldades, entretanto, parceiros e aliados, Ministério Público Federal e Sistema Nacional de Cooperativismo entenderam que só assim passaria no crivo da disputa, se atribuíssemos ao Estado (governo) o reconhecimento e legalização dos extrativistas do setor mineral, ditos garimpeiros. Governos sempre doentes são piores que nós Lula, não tão competentes, lentos, preguiçosos e até letárgicos; se deixando de lado outras coisinhas...

Dados publicados dão ao país milhões de informais, mas nem essa expressão a nós é conferida, somos ilegais. E na gigantesca ambição às jazidas ocupadas, utilizam da “maldosa inocência” dos tutores em cargos de poderes, para ganharem a opinião pública, em consolidação de projetos dos assaltos almejados, chegando a tacharem a atividade de narco-garimpo. 

Lula, infâmia e vilania. Presidente, procure nos escaninhos e arquivos da Polícia Federal se já existiu vínculo delituoso de garimpo a narcotráfico.

Por sinal, esse empenho repressivo e demolidor que têm dado ao extrativismo amazônico, se no combate ao narcotráfico já o teria liquidado. Imagino não serem tão hostis a eles por não existirem minas de ouro ou outras ambições baixo ao manto deles.

Não alimente o dom da fúria ou torne a sociedade nervosa e ansiosa como estamos por causa das “doires”. E mais, “tô” aqui aguardando para entrar em procedimento cirúrgico, mas vou ver primeiro o que vai acontecer com você, aí estarei dentro. Temos saúdes magoadas, mas cabeças, ambas, boas, espero...

Um abraço e a bem de todos, que o médico acerte em mãos e cuidados.

Faça não só a Janja feliz e satisfeita, mas também a todos nós desta Nação. Merecemos.

BH/Macapá, 30 de julho de 2023

*Jose Altino Machado é líder garimpeiro

Imagem da Galeria As conversas entre os dois são sempre bem comportadas, mas é só o jeito de cada um
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